Camilo Irineu Quartarollo
Sabin fez um preparado da vacina antipólio para aplicação via oral, por conta-gotas, de forma indolor, rápida e eficaz aos bracinhos das crianças, sem agulhas invasivas e doloridas. A gotinha milagrosa, o resmungo satisfeito e o suspiro das mamães. Albert Sabin venceu a luta mundial contra a poliomielite. Os primeiros países a lhe darem aval de combate ao vírus foram os comunistas do Leste Europeu, mas o bom senso prevaleceu mesmo nos EUA, entre os quais optaram pela vacina.
Quem via uma criança com membros desconjuntados e doloridos sabe o quanto é triste a paralisia infantil. No início do século XX a pólio fez muitas vítimas, porém, com a vacinação foi se reduzindo gradativamente até desaparecer nos dias atuais. Contudo, o negacionismo não é de hoje, sejam por motivos ideológicos ou inveja do êxito alheio, mesmo com impacto social benéfico.
O criador da vacina casou-se em 1972 com a brasileira Heloisa D. de Abranches e acompanhou pessoalmente o combate ao vírus da pólio em nosso país. Antes dele, as vacinações se faziam sem continuidade. Conseguia-se diminuir num ano e aumentava-se no outro. Sabin defendia o rigor das estatísticas e a vacinação em massa, continuadamente, de um ano a outro até atingir a erradicação da pólio.
Em março de 1989, na Paraíba, foi confirmado o último caso da pólio no Brasil e a OMS certificou a erradicação no país em 1994.
Entretanto, preparem as carteiras de vacinação. Com as mudanças climáticas e diminuição de hospedeiros das florestas vamos passar a conviver com novos parasitas e alguns terríveis. A Covid não foi totalmente debelada. A vacinação completa são quatro doses, mais a que os postos estão aplicando neste ano. Não adianta se vacinar pela metade. É preciso desengavetar a carteira de vacinação! – novos tempos. Não adianta, tampouco, os países ricos vacinarem sua população e deixar sem vacinas os países pobres.
Em 1970, Sabin comprou briga com os militares, pois o governo dos generais encaminhou a OMS (ONU) relatório enganoso, com número de infectados aquém dos reais. Tentaram escorraçá-lo, fecharam-lhe as portas e virou alvo de fake news. Acusaram-no de obsoleto, desacreditado e chegaram a acusá-lo de servir a um grupo sionista!
Sabin venceu, não se abalou com partidarismos ou posições ideológicas nem guardava rancor, contrariando as posições predatórias do direitismo nacional. Abriu mão da patente e liberou a sua gotinha aos pequeninos, em todos os países.
Apesar da pressa dos resultados, estatísticas, patentes e lucros dos laboratórios, a Homeopatia e a Acupuntura não são meras bobagens. Quem sabe não baste uma gotinha de bom senso. Ao meu modesto ver, a gotinha reforça o princípio das doses infinitesimais da Homeopatia. O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), do governo do Ceará, há dez anos, adotou a homeopatia como prática exitosa em seu ambulatório de especialidades.
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros