José Renato Nalini
Um Brasil que precisa de heróis não precisa procura-los na produção internacional dos autores de aventuras em quadrinhos ou nos audiovisuais. Existe alguém real, brasileiro e paulista, que merece uma redescoberta por parte das novas gerações.
Diogo Antonio Feijó (1784-1843) foi um filho ignorado por seu pai. Teve boa educação e se tornou professor de francês e de geografia. Ordenado sacerdote em 1808, recebeu herança de sua avó e administrou uma fazenda com 13 escravos, produção de açúcar e aguardente.
Foi vereador em Itu, deputado paulista às Cortes de Lisboa e impressionou a Europa, diante de sua postura liberal. Detestava a anarquia e defendeu a abolição do celibato, porque muitos viviam em concubinato e tinham filhos. Em 1828, Feijó foi eleito Secretário da Câmara dos Deputados e escreveu um “Guia das Câmaras Municipais do Brasil no desempenho de seus deveres”. Em 1831 tomou posse como Ministro da Justiça e elaborou um documento chamado “Exposição do modo por que me pretendo conduzir no Ministério”. Hostilizado pelos Andradas e pelos “caramurus”, que queriam a restauração da monarquia, renunciou em 1832.
Candidatou-se a senador pelo Rio de Janeiro e, em 1834, foi escolhido Regente Uno. Era um homem de outra época diante da sua clarividência e pioneirismo. Renunciou, indicou um adversário, Pedro de Araújo Lima, para sucedê-lo e retornou para a sua fazenda paulista.
Volta ao Rio, então Capital do Império, em 1839, para presidir o Senado. Assistiu à coroação de Pedro II e, dois anos depois, participou da Revolução Liberal. Foi preso e desterrado para Vitória, no Espírito Santo. Reapareceu no Senado em 1843 mas, em virtude de uma queda, faleceu pouco depois. Tinha apenas 58 anos de idade.
É considerado o fundador do Partido Liberal, liderou a Revolução de 1842, que começou em Sorocaba. Conseguiu conciliar o sacerdócio, a política, o magistério e a administração de uma razoável propriedade rural.
É um exemplo de superação. Sua origem poderia ter inibido seu fervor em relação aos estudos, a participação na política e a vontade de fazer do Brasil uma grande Nação, sem escravidão e sem subserviência à Metrópole.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)