Álvaro Vargas
Os três evangelhos Lucas (8:26-39), Marcos (5:1-20) e Mateus (8:28-34), descrevem a cura realizada por Jesus de um jovem, em Gadara, que estava “endemoniado” (possuído por espíritos malignos). Nesse processo, os espíritos entraram nos porcos, e caíram de um barranco se afogando no mar. Importante ressaltar que os Evangelhos são sinóticos (resumidos), constituindo um relato das atividades de Jesus de forma abreviada, por isso devem ser analisados além do seu sentido literal, com base no conhecimento científico atual. Muitas religiões, interpretam esse episódio como um embate entre Jesus e Satanás, diferindo da visão espírita, que inclusive não utiliza a expressão “endemoniado”, mas explica ser mais coerente usar o termo “obsediado”. Isto, porque, entendemos que os espíritos maus, nada mais são que as almas dos próprios homens, que quando aqui encarnados, se deixaram levar pelos vícios e crimes. Deus não criou anjos e demônios, apenas espíritos simples e ignorantes, que evoluem através da pluralidade das reencarnações na Terra e em outros planetas, sendo a nossa idade espiritual (desde a nossa criação) superior a um bilhão e meio de anos (Evolução em Dois Mundos, André Luiz, Waldo Vieira e Chico Xavier).
Todos nós, somos normalmente influenciados, e conduzidos pelos espíritos que nos cercam, mas temos o livre arbítrio para escolher os nossos pensamentos, e nos sintonizarmos com o mundo espiritual. Entretanto, uma vez que essa sintonia seja estabelecida, passamos a ser conduzidos pelos espíritos, que aceitaram o nosso convite mental, tanto para ações edificantes como viciosas, dependendo do nosso nível moral. No caso do jovem gadareno, pelos vícios e vida desregrada, ocorreu o estabelecimento de um processo obsessivo por uma legião de espíritos atrasados, que tinham afinidade com ele. Devido à fraqueza moral, essa obsessão evoluiu para um quadro mais crítico, a ponto de os espíritos maus, assumirem a posse provisória de seu corpo físico (possessão), e com ele, passaram a agredir todas as pessoas à sua volta. Mesmo amarrado pelos familiares, ele conseguiu romper as cordas e correntes (graças a força recebida mediunicamente), fugindo para longe, e passando a viver em cavernas. Foi curado apenas quando Jesus ordenou que esses espíritos maus o deixassem.
Em Gadara, a cultura helênica era predominante (diferente dos judeus que não consomem carne de porco), e os habitantes utilizavam além do porco, ovelhas e bois, em sacrifícios para as oferendas aos deuses, e logo após o sacrifício, a carne era consumida nos mercados locais. O Espiritismo explica que durante a cura desse jovem, os espíritos “imundos” não saíram dele para “entrar” efetivamente nos porcos. De acordo com Allan Kardec (A Gênese, cap. XV, item 34), “considerar o fato de um espírito poder fazer morada no corpo de um animal, seria contrário a todas as leis da natureza, portanto não ocorreu nenhuma transferência de obsessores do jovem para os porcos”. O que pode esclarecer este episódio, é o conhecimento que temos acerca da sensibilidade ótica dos animais, que em algumas circunstâncias podem ter uma visão do mundo espiritual, muito mais aguçada do que o ser humano, e isso inclusive está registrado no Antigo Testamento (Números, 22:21-41), que cita Balaão, montado em um jumento que retrocedeu, devido à visão (desse animal), de um espírito que veio com a missão de advertir o profeta, a não seguir as ordens do rei Balaque, que era a de amaldiçoar os judeus. Os porcos, provavelmente viram a legião de espíritos atrasados e se assustaram, caindo do barranco e se afogando. Sobre este acontecimento, temos o relato do espírito Yvonne Pereira (Encontros com Jesus, Walace Neves) citando que Jesus permitiu o afogamento dos porcos porque esses estavam doentes e poderiam contaminar todo o rebanho. Quanto ao jovem liberto da obsessão, esse se tornou um divulgador da Boa Nova revelando para toda comunidade a cura realizada por Jesus.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita