José Renato Nalini
A temporada sombria impõe ao que resta de sensatez na República Federativa do Brasil estar vigilante em relação a tudo o que guarda pertinência com o ambiente. Depois da devastação acelerada, incêndios criminosos promovidos no anunciado “dia do fogo”, a mídia internacional propor uma “vigília pela morte da Amazônia”, é temerário acenar com flexibilização do licenciamento ambiental.
Facilitar o exame dos pedidos de obras que interfiram com a natureza não significa “liberar geral” e deixar que a catástrofe continue. Já nos acostumamos com a insanidade de permitir que vinte milhões de pessoas se acotovelem numa área cinza, desprovida de verde, em moradias precárias, com o sepultamento dos cursos d’água e poluição irrecuperável de três grandes rios.
Parece incrível que o ser humano se adapte a condições miseráveis de existência, quando o Brasil tem um território imenso, cuja preservação representaria a sua salvação econômica. Em nome de um tacanho e míope “progresso”, prefere-se destruir o verde, continuar a produzir lixo tóxico, eliminar a água doce, importunar toda espécie de vida com uma poli-poluição: comprometimento do solo, do ar, da acústica e da higidez de qualquer resquício de vida digna.
Assiste-se a um deliberado desmantelamento das equipes de fiscalização e a sinalização das altas esferas é a de que o ambientalismo é sinônimo de fanatismo da esquerda. Não precisa mais do que isso para assanhar a afoiteza e para a intensificação de toda espécie de delito ecológico.
Aquilo que era uma vantagem para o Brasil, considerado o detentor de 12% de toda a cobertura vegetal do planeta, passou a ser – para os apressados e inconsequentes – uma desvantagem. Com invocação dos mais absurdos argumentos – a soberania nacional, a ilegitimidade de quem destruiu suas florestas, para impugnar os nossos crimes ecológicos, a ação perniciosa das ONGs, a conspiração internacional contra o “progresso” do Brasil, libera-se toda espécie de ações nefastas contra o indefeso ambiente.
Este, já escaldado, receia que a lei do licenciamento seja mais uma mutilação em seu depauperado esquema protetivo.
Quando chegará o juízo para essa gente? Quando ela já não estiver aqui e as crianças, hoje inocentes, é que viverão o pior. Herança perversa de quem antagoniza progresso e proteção ambiental.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)