Modismos estéticos

 

Há 70 ou 80 anos, estavam na moda, especialmente nos regimes totalitários, as práticas eugênicas, incentivadas pelos governos. Havia, de um lado, uma eugenia positiva (incentivando casamentos intra-raciais, monogâmicos e altamente fecundos, e, de outro, uma eugenia negativa, por meio da esterilização e/ou eliminação de indivíduos indesejáveis, com vistas ao fortalecimento da “raça”. Uma sátira muito feliz e bem humorada disso pode ser vista no filme italiano “A Vida é Bela”, quando um judeu, passando-se por fiscal do Ensino fascista, faz uma zombaria muito viva das qualidades da raça itálica…

Hoje, felizmente não há mais clima para essas práticas, se bem que ainda existam verdadeiros abusos, praticados por cientistas, contra a vida humana, com a eliminação de fetos e outros crimes análogos. Uma ciência ética, comprometida com a Vida humana, desde a concepção até a morte natural, é ainda um desafio a ser superado.

Em nosso tempo fala-se muito de direitos humanos, em todas as constituições tais direitos são solenemente afirmados, mas os direitos, por exemplo, dos nascituros são impiedosamente violados. Igualmente se desenvolve intensa campanha em favor da eutanásia, embora essa palavra tão forte seja, geralmente, substituída por alguma expressão eufemística menos chocante.

O culto ao corpo também, nas últimas décadas, vem ganhando contornos muito diversos do que no passado. Talvez por falta de outros referenciais de natureza menos material, os indivíduos tendem cada vez mais a se voltarem para o próprio corpo. A dietética, o culto da saúde como valor supremo, a preocupação com problemas ambientais prejudiciais à saúde humana, os check-ups regulares, tudo isso se configura, nos tempos atuais, quase à maneira de uma religião.

Nas últimas décadas, realmente foi muito grande a transformação dos critérios estéticos, dos padrões de beleza. Li que, há poucos anos foi descoberta na Espanha uma coleção de filmes pornográficos, filmados em bordéis de Madri, nas primeiras três décadas do século XX. Para grande surpresa dos observadores, na sua imensa maioria as prostitutas eram gordíssimas, pois fazia parte do sex-appeal da época que as mulheres fossem gordas.

Magrelas anoréxicas, como hoje a ditadura da moda impôs, eram impensáveis naqueles tempos. De fato, comia-se muito naquele tempo. Ninguém se preocupava com o excesso de peso. Pelo contrário, ter “reservas” de tecido adiposo era considerado sinal de boa saúde. Foi só bem mais recentemente que os gostos mudaram. Hoje, praticamente todos, homens e mulheres, sentem-se culpados se comem à vontade. Tudo estão dispostos a sacrificar, desde que o corpo esteja “enxuto”.
As operações plásticas, antes somente procuradas por mulheres, atraem cada vez mais homens, de todas as idades. A vaidade deixou de ser privilégio (injustamente, aliás) atribuído somente às mulheres, e passa a dominar também o sexo masculino.

Licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro da Academia Portuguesa da História e dos Institutos Históricos e Geográficos do Brasil, de São Paulo e de Piracicaba.

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