O nhenhenhém dos insatisfeitos

 

Camilo Irineu Quartarollo

 

 

Ao apagar das luzes, o governo conseguiu evitar o apagão dos ministérios do novo executivo. Garantiu a votação no congresso, concedendo emendas parlamentares, e pela “bagatela” de 1,7 bilhões – está nos jornais todos.

O presidente da Câmara federal, Arthur Lira, dissera da insatisfação generalizada pela falta de articulação do governo. Parece mais uma insatisfação própria do congresso, um nhenhenhém a cada votação.

Quando se fala em negociação logo pensamos em lucros, vantagens. Negócio para o povão é isso! Qual o lucro desse negócio? Esse azedume todo é por emendas, verbas para obras em locais do eleitorado do parlamentar.

Os projetos elencados, mais visíveis e de “futuro”, são ferrovias, rodovias, pontes, praças, postinhos de saúde, compra de caminhões de lixo, ônibus escolares, ambulâncias, viaturas de polícia. Obras aos caipiras e votos ao “benfeitor” que vem com a comitiva em grande estilo inaugurar, palmas. Obras as quais são do dever do Estado, de infraestrutura próprias do executivo, já pagas pelos impostos, não é favor nenhum.

Esgotos, cemitérios e afins, não são prioridades, visto que de péssima divulgação, o eleitor não vê. Se estourar um tubo fétido na rua a culpa é do prefeito, enchentes também – ninguém vai culpar um deputado em Brasília.

Exceto o prefeito Odorico, da lendária Paraguaçu, ninguém inauguraria um cemitério, pois não anima ninguém descerrar essa faixa, não empolga, não dá voto.

No pífio governo Temer/Bolsonaro – da ‘ponte à pinguela para o futuro’, o Congresso se tornou protagonista, apropriando-se de prerrogativas de governo ao administrar verbas do executivo, no famigerado Orçamento secreto, termo usado pelo jornal O Estado de S. Paulo, que revelou esse mecanismo escuso na câmara federal, em 2020.

O tal mecanismo de liberação de verbas não indicava para onde, para qual município, quais obras ou quais valores tinham?! Nesse orçamento não se especificavam os nomes, os limites e o destino – um anonimato que impedia a fiscalização da verba liberada, e liberadas mesmo assim. Em 2021, O Supremo suspendeu provisoriamente os repasses, exigindo publicidade desse dinheiro que saía dos cofres do governo e migrava para o orçamento secreto. Alguém já viu orçamento público secreto?!

Há casos graves de desvios. A Polícia Federal identificou falsificações grosseiras de radiografias de dedos humanos que superavam o número de habitantes na cidade de Igarapé, no Maranhão. Já em Pedreira, cidade de 39 mil habitantes, extraíram-se 540 mil dentes. Notem-se que, mesmo computando os dentes de recém nascidos, não há tantos dentes e bocas assim por lá. Além destes há outros casos na mídia.

As negociações por verbas no congresso continuam. É corrente no noticioso! O governo tem de negociar, se não… é mal negociador, é culpa do governo… ufa, finalmente o governo conseguiu negociar. Negociar o quê?!

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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente e escritor, ensaísta, autor de crônicas, historietas, artigos e livros

 

 

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