Não sou contra o contra

Eloah Margoni

 

Nada contra a palavra “contra”, desde que não usada contra a bela língua portuguesa, contra a correta regência verbal que temos.  Também sou contra atirarmos pedras contra os jornalistas mesmo eles, atualmente, só escrevendo contra para tudo. Isso vai contra o fígado e contra os bofes de qualquer um com conhecimento médio. Ô jornalistaiada do contra! Fulano atirou contra sicrana, xingou contra a mãe e cometeu abuso contra beltrano, fazem denúncias contra esse ou aquele.

Nada contra a ignorância dos ignorantes, mas há profissões onde, mesmo adorando o contra, não se admite usar tanto contra, o que é, de fato, andar na contramão do que é correto. Contam da delação contra X ou Y, da contravenção contra os bens públicos, ou que não se fará delação contra ninguém. Falam sobre asfixia contra uma pessoa e nunca vi asfixia contra alguém, asfixia de alguém já. Assassinato contra um indígena, escrevem eles sobre acidente onde o carro bateu contra árvore e não na árvore. Deve ser sequela do pessoal do contra, puro bozofascismo que sempre foi contra (e aí corretamente empregado) a cultura, o conhecimento e a instrução das pessoas.

Também relatam os periódicos e repórteres que vive-se cometendo o terrível racismo contra pessoas pretas e não em relação a elas. Do jeito que vai, a palavra contra deixará de ser preposição e tal qual a palavra “coisa” passará  a ser substantivo e até verbo: o verbo “contrar”.

– Paulo controu Maria.

– Você quer dizer encontrou? Contratou, contrariou, contrapôs? Contramoldou, contraindicou ou contradisse?

– Não, controu mesmo! Ele controu Maria e depois controu Daniela.

– ????

-Estou explicando, eles contraram! Entendeu?

– Não entendi. Está meio contraditório, mas para não acabar piração contra minha cabeça, eu me rendo. Crontababando.

______

Eloah Margoni, médica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima