Cerimônia – Vereadores destacam coroações, 122 anos do Treze e a Lei Áurea

Na solenidade também foram apresentadas as 12 integrantes do concurso para rainha e princesas do Clube 13 de Maio, onde a grande vencedora foi a recepcionista de eventos, Ana Carolina Mota, ladeada pelas princesas Priscila Roiz e Lívia Lopes, além da miss simpatia Samira Garcês, que foram coroadas no evento

 

Autoridades e representantes de entidades compuseram a mesa de honra da solenidade ocorrida no salão nobre da Sociedade Beneficente Treze de Maio, na noite do último sábado (13) por ocasião dos festejos alusivos aos 122 anos da entidade, além de reflexões sobre os 135 anos da assinatura da lei Áurea no Brasil, assinada pela princesa Isabel, que decretou o fim da escravidão no país.

Na solenidade também foram apresentadas as 12 integrantes do concurso para rainha e princesas do Clube 13 de Maio, onde a grande vencedora foi a recepcionista de eventos, Ana Carolina Mota, ladeada pelas princesas Priscila Roiz e Lívia Lopes, além da miss simpatia Samira Garcês, que foram coroadas no evento.

Todos os integrantes da mesa de honra tiveram vez e fala na solenidade, iniciando pelo vereador Paulo Campos (Podemos), que destacou a importância do evento, além de considerar a relevância do povo se organizar para a conquista de mais espaços e garantia de direitos. “Numa data tão importante, pelos 135 anos de liberdade e 122 anos do Clube Treze de Maio, este espaço era para estar repleto de negros”, disse o parlamentar em tom de crítica, não poupando aquele próprio negro que não se une aos irmãos na luta por direitos humanos. Paulo Campos lembrou que a cada 23 minutos morre um negro no Brasil dado a violência que impera no país.

A vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua falou da honra em retornar ao Treze de Maio, lugar onde ela dançou batuque de umbigada, na época do prefeito municipal José Machado (PT). Também falou de sua condição em ser neta de negro, além de deixar mensagem de incentivo à participação política ao dizer que “temos que ter mais mulheres e negras ocupando os espaços de poder”.

O advogado Luciano Alves de Lima, presidente do Conepir (Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Piracicaba) lembrou que o problema principal não foi o 13 de maio, mas sim o dia seguinte, o 14 de maio, quando até hoje o povo negro ainda espera a contrapartida do poder público para uma justiça social que ainda não veio.

Luciano também comentou que a lei Áurea só tinha dois artigos, o primeiro dizendo que a partir daquela data estava extinta a escravidão no Brasil e, no segundo artigo, que se revogue disposições em contrário. Para Luciano, somente no Código de Posturas da época havia 933 artigos naquela lei. “Nossa independência foi uma conquista”, concluiu Luciano, que ainda mostrou que não temos o que comemorar nesta data, pois ainda sofremos em decorrência da falta de alimentação, moradia, desemprego e carências nas demais áreas sociais.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Piracicaba, Milton Costa destacou a condição de “vitória”, a que a comunidade negra de Piracicaba conseguiu perante a Sociedade Beneficente Treze de Maio, na resistência e continuidade de luta por melhorias de toda uma geração. “Usavam a nossa garagem. Nossos filhos e nossos netos não tinham vez neste lugar. Agora este espaço é nosso”, destacou o sindicalista para discorrer sobre o processo de reabertura e novas atividades no Treze. Miltinho, como carinhosamente é conhecido também falou de visita que fez na comunidade Renascer, em área de favela, na periferia da cidade. “A maioria é nosso povo. Temos obrigação de cuidarmos um do outro. Somos gente”, disse o sindicalista ao se referir à ampla maioria de negras e negros que padecem nestas habitações.

O ex-vereador e também ex-presidente da Emdhap, na gestão do ex-prefeito José Machado, José Maria Teixeira, que integra o Conselho Deliberativo do Treze de Maio alertou para a luta constante a que o negro deva se pautar. “Se não cuidarmos de nós, não seremos nada. Todo ser humano é sujeito de direitos e deveres. Ninguém é mais que ninguém. Seremos passados para traz se não nos darmos conta de quem somos. O artigo quinto da Constituição Federal fala de igualdade para todos, mas a coisa é bem diferente”, disse Teixeira, que também fez um apelo aos vereadores que compuseram a mesa de honra, especialmente os negros, para que as crianças sejam estimuladas a conhecer a sua própria história.

“Temos que comemorar o 13 de maio e o 20 de novembro. Não podemos esquecer disso”, concluiu Teixeira, que ainda ressaltou o direito aos povos originários, na formação do povo brasileiro, com destaque à cultura indígena, além de considerar aspectos de preconceitos e discriminações, falta de oportunidades para negros em postos de comandos e, principalmente o despertar das autoridades sobre a formação do curriculum escolar, no ensino da história da África.

O vereador Acácio Godoy (PP) fechou o ciclo de saudações para lembrar que nos Estados Unidos a população negra está em torno de 13%, onde conseguiram até eleger um presidente negro, ao passo que no Brasil 56% da população é afrodescendente e não conseguimos nada disso. “Quem somos nós é a grande questão”, indagou o parlamentar, que também fez menção ao legado do vereador Paulo Campos e do sindicalista Milton Costa, ambos de infância podre, de periferia, e que trilharam novos caminhos, pelas oportunidades da vida e esforço próprio.

Godoy também discorreu sobre sua carreira política, na esteira do movimento negro, quando integrou a um trabalho que resultou no fortalecimento dos clubes negros do Brasil, onde o Treze de Maio em Piracicaba se desponta como a terceira entidade centenária, precedida pelo Rio Grande do Sul e a cidade de Jundiaí, em São Paulo. Godoy encerrou suas considerações destacando os 200 anos da Câmara Municipal de Piracicaba.

O palestrante oficial da noite, o jornalista da Câmara Municipal de Piracicaba, Martim Vieira Ferreira abordou a temática sobre a identidade negra na contemporaneidade, em reflexões sobre a própria data 13 de maio, onde coincidentemente, os principais jornais da cidade não deram em primeira página o anúncio sobre os 135 anos do fim da escravidão no Brasil.

Sobre a Sociedade Beneficente Treze de Maio, nos seus 122 anos, o jornalista lançou o desafio para que o negro e a negra, piracicabanos se voltem para a retomada de trabalhos da entidade, que respaldada pela Justiça estabelece um novo ciclo de realizações, tendo uma diretoria e conselho deliberativo, devidamente edificados, para continuar na assistência e fomento de ajuda mútua ao povo negro de Piracicaba.

O presidente do Treze de Maio, José Luiz Theodoro conduziu os eventos festivos, na formação da mesa de honra, bem como na coroação das princesas e rainha. Na solenidade também foi contemplada a mãe do ano, a mais jovem e a mais idosa. Além de manifestações culturais, que envolveram o público, no entorno de 100 pessoas que prestigiaram o evento, seguido por um coquetel, com direito a um bolo de aniversário em comemoração aos 122 da Sociedade Beneficente Treze de Maio, que surgiu em 1901, como Sociedade Antônio Bento e, em 1908 foi denominada como a conhecemos hoje, em prédio histórico tombado pelo município.

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