História Oral em Piracicaba

Armando Alexandre dos Santos

 

No próximo sábado, dia 29 de abril, às 16 horas ocorrerá, na Biblioteca Municipal de Piracicaba, o lançamento de dois livros. O primeiro deles tem, como título, precisamente o mesmo deste artigo: “História Oral em Piracicaba”. Seu autor é meu bom amigo, confrade e colega João Umberto Nassif, figura bem conhecida nos meios culturais e sociais de nossa cidade. O segundo, de minha lavra, chama-se “Teoria e Prática de História Oral” e corresponde mais ou menos ao conteúdo do curso de História Oral, que eu ministrei durante algum tempo na Universidade do Sul de Santa Catarina.

Os dois volumes foram projetados para ser um só, com dupla autoria. Depois, por razões de praticidade, resolvemos fazer dois livros separados, ficando eu com a parte teórica e Nassif com a parte prática. Ambos entraram na linha de produção do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, presidido pelo dinâmico Edson Rontani Jr., e com patrocínio da Prefeitura Municipal da cidade vieram agora a lume.

A utilização de narrativas orais como fontes históricas foi durante muito tempo desprezada pela historiografia influenciada pela Escola Positivista do século XIX, que somente aceitava como válidos e  confiáveis os documentos escritos, de preferência emanados de autoridades oficiais. Nessa ótica hoje inteiramente superada, as narrativas orais eram consideradas apenas como algo característico de povos primitivos e não evoluídos, ágrafos e de cultura meramente oral. A partir de 1929, porém, por influência da Escola dos Anais, fundada em Strasbourg, na França, por Marc Bloch e Lucien Febvre, ampliou-se muito o conceito de fontes históricas utilizáveis por um historiador – o que ensejou um extraordinário desenvolvimento dos estudos históricos.

Durante a segunda metade do século XX, cada vez mais se valorizou a História Oral, entendida numa dupla perspectiva: em primeiro lugar, como meio de obter informações sobre fatos remotos que foram conservados na memória coletiva dos povos ou grupos humanos, sendo transmitidos de geração em geração; em segundo lugar, para realizar pesquisas sobre acontecimentos mais próximos, mediante depoimentos de pessoas que os vivenciaram.

O livro de Nassif contém uma coleção de entrevistas selecionadas um tanto aleatoriamente entre centenas de entrevistas que o Nassif fez com pessoas de todas as condições, profissões e níveis econômicos. São entrevistas reveladoras da realidade cultural, econômica e social da cidade e da região de Piracicaba. São entrevistas de uma riqueza extraordinária, conduzidas jeitosamente pelo hábil entrevistador de modo a permitir que todos se exprimam com naturalidade. A seleção contida no volume constitui apenas uma pequena amostra do imenso acervo acumulado por Nassif. Os leitores que desejarem conhecer melhor esse rico acervo podem consultar diretamente o Blog do Nassif (https://blognassif.blogspot.com), transformado em 2022 no site Histórias de Nassif (https://historiasdenassif.com.br/).

Personagem extraordinariamente rico de conhecimentos, de amizades e recordações acumuladas ao longo de décadas de trabalho jornalístico no rádio e na imprensa escrita, Nassif passou os últimos 26 anos – dos 69 que tem agora – fazendo História Oral. Mais precisamente, coletando material para que no futuro historiadores e sociólogos disponham de fontes primárias abundantes e confiáveis para compreender a realidade de Piracicaba e região nas últimas décadas.

Nesses 26 anos, Nassif entrevistou perto de 1000 pessoas, de todas as categorias sociais e representando os mais variados setores da sociedade. Homens e mulheres, velhos e novos, ricos e pobres, todos os que têm algum depoimento interessante a dar caem sob o olhar do curioso que é João Umberto Nassif. Com jeito e simpatia, sabendo se adaptar à psicologia de cada entrevistado, inspirando em todos confiança desde o primeiro momento, Nassif consegue obter relatos fantásticos que, sem ele, seriam esquecidos e fatalmente desapareceriam da memória coletiva da cidade.

Nassif já tinha publicado dois alentados livros com algumas dessas entrevistas, que inicialmente eram divulgadas em programa radiofônico especializado e, há mais de 15 anos passaram a ser publicados semanalmente no jornal diário “A Tribuna Piracicabana”, dirigido por nosso comum amigo e coetâneo (todos nós somos da “safra” de 1954…) Evaldo Vicente, que também prefaciou este novo lançamento de Nassif.

A capa do volume estampa um lindíssimo desenho da artista piracicabana Rosângela Duarte Novaes, que de bom grado e graciosamente autorizou a utilização dessa imagem.

 

 

 

Licenciado em História e em Filosofia, doutor na área de Filosofia e Letras, membro da Academia

Portuguesa da História e dos Institutos Históricos e Geográficos do Brasil, de São Paulo e de Piracicaba.

 

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