Moda em Medicina

Douglas Ferraz de Campos Filho

 

A moda é um fenômeno próprio da espécie humana, nada mais do que uma extensão da natureza humana.

Na vida corrente observamos a todo momento a adoção de certas práticas, usos e conceitos a que convencionamos a chamar de moda; manifesta-se de forma coletiva e geralmente durante tempo limitado, as vezes é sazonal, seja um tipo de sapato, figurino, decoração, cor de roupa, automóvel, tipo musical, dieta para emagrecer, o iPad, o iPhone, viagem para o Caribe, o livro Código da Vinci, os livros de auto ajuda; um fenômeno relacionado a moda, é a rapidez do consumismo e o interessante é que “moda” é uma definição estatística como média, mediana e significa o mais frequente.

Moda é o coletivo imitando o coletivo, com força do individual comandando a cena, no afã de copiar o outro a fim de promover-se ou se incorporar.

Mas em medicina também existe moda, muito bem descrita no artigo do professor Dr. José Manoel Jansen, na medicina muitos conceitos, doenças e tratamentos adquiriram notoriedade, destacarei alguns exemplos: o fumo do tabaco, foi alavancado após a segunda grande guerra, virou moda e vício; a amigdalectomia em crianças foi rotina por quase 30 anos seguidos; o uso de “botinhas” para correção do pé plano em crianças nos anos de 1950 a 1970; a cirurgia em excesso para apendicite; o uso de aparelho dentário para todos os adolescentes; o diagnóstico de colite para queixas abdominais mal definidas; o abuso do diagnóstico sorológico para quase tudo; o diagnóstico de intolerância a lactose e alergia ao leite de vaca para todas as crianças que tinham rinite ou asma; o uso de talidomida; a super dosagem de vitamina C; o uso do complexo B como protetor hepático; o uso do xarope Staphylase para acnes; o uso de xaropes com codeína para todo tipo de tosse; o uso do chá verde e outros; dietas vegetarianas, dieta da Lua, dietas macrobióticas; diagnósticos ortomoleculares; eletro choque para psicopatas; a lobotomia que foi “prêmio Nobel” de cirurgia cerebral que deixavam os pacientes como se fossem “mortos vivos”; o teste de Cooper; dieta das proteínas; a crucificação do ovo; a liberação do ovo; a ingestão exagerada da clara do ovo em praticantes de musculação; internações em hotéis com águas termais para tratamento de artralgia; a internação em luxuosos sanatórios, em cidades de altas altitudes para tratamento da tuberculose; saunas, banhos, massagens para tratamento de estresse e doenças nervosas; o uso do óleo de fígado de bacalhau; o uso de inúmeros fortificantes como o Biotônico Fontoura; vinho reconstituinte Silva Araujo; o uso indiscriminado de vitamina A, vitamina E, e cápsulas de Omega 3.

Nos tipos de partos, as modas vão do parto natural, parto induzido, submerso, de cócoras, outros tipos e cesarianas, grandes debates nesses assuntos ainda acontecem.

As injeções de gluconato de cálcio e glucoenergan como revitalizantes. A abreugrafia era rotina nos exames admissionais. As fontes sulforosas, magnesianas, alcalinas, fluoretadas, radioativas, gasosas, pois pretensamente serviam para curar tudo, as ervas e xaropes virilizantes dos indígenas.

Os banhos de mar, a soroterapia era moda em 1960, as sangrias foram praticadas por mais de 2.200 anos e muitas vezes provocaram choque e morte.

Os protetores das “doenças de fígado”, metionina, ornitina, colina, betaina, silimarina e já comentamos sobre superdosagens de vitaminas do complexo B.

A hipnose utilizada para tratar a histeria. O botox que ainda está na moda associando á derivados de silicones para preenchimentos de linhas das expressões faciais.

A síndrome do pânico que não passavam de distonia neurovegetativa e distúrbios de ansiedade e depressão. O mar da “maré dos antioxidantes”, varredores dos radicais livres.

Enfim, muita coisa que foi usada para quase nada e continua sendo utilizados; não posso deixar de declarar que vários tratamentos também foram benéficos, mas muita pesquisa ainda deve ser feita, pois é necessário o conhecimento científico, porque hoje com toda essa globalização de falsidades, esses livretos de pseudomedicamentos de A à Z e a utilização de práticas empíricas de modo supérfluo e descartável não passam de vaidades e todos nós sabemos que a vaidade custa caro e é considerado o pecado que  o Diabo mais gosta.

 

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Douglas Alberto Ferraz de Campos Filho, médico.

 

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