A política já foi melhor

José Renato Nalini

A série de livros que explora o fim da Democracia aborda um fenômeno planetário: a falência da representação política. É raro o ser humano que se considera adequadamente representado. A partir do momento em que a política partidária se converteu em profissão, surgiram exemplares lastimáveis de mandatários que não obedecem mais ao mandante. Lembram-se dele às vésperas das eleições e, depois disso, fazem o que querem. Na verdade, fazem o que mais interessa a eles.
Numa sociedade em que o dinheiro detém o poder, além da conquista inicial do cargo, a meta se transforma na busca do ouro. Aquela fome terrível, que faz olvidar tudo o que é princípio, honra, caráter, ética, moral, probidade, honestidade e mais aqueles atributos hoje praticamente desaparecidos.
Nem sempre foi assim. Já tivemos no Parlamento figuras como José Bonifácio, o Moço, Joaquim Nabuco, Santiago Dantas e, mais recentemente, Carlos Lacerda.
Este ficou marcado porque fez uma campanha dura contra o ditador Getúlio Vargas, considerado o “pai dos pobres”. Como ninguém é detentor de todas as qualidades, mas também de todos os defeitos, a Vargas devemos a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, uma aproximação com os Estados Unidos que não colocou o Brasil de joelhos, a CLT, a Petrobrás e um simbólico sentido de pertencimento pátrio.
Durante a discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lacerda afirmou: “a escola no Brasil tornou-se um artifício, tornou-se uma superfetação, tornou-se uma espécie de preparação para a anulação das qualidades e das vocações, das tendências e das potencialidades da inteligência do povo brasileiro, principalmente porque é organizada, é dirigida, é teleguiada, se assim me posso exprimir, por uma burocracia federal que prefixa os programas desde o Território do Rio Branco até as margens do Chuí, de tal modo que a imensa diversidade brasileira ainda não foi levada na devida conta pelo sufocante aparelho burocrático desse inútil e pernicioso Ministério da Educação e Cultura”.
Foram necessários sessenta anos para que o Brasil passasse a contar com a sua Base Nacional Comum Curricular, que permitirá a cada município investir na sua vocação natural, oferecendo às suas crianças a educação que a elas permitirá enfrentar, com chances de sucesso, os desafios da Quarta Revolução Industrial.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-Graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL)

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