Plinio Montagner
“Amigo é coisa para se guardar dentro do coração, no lado esquerdo do peito”.
Amigo é personagem do passado, do presente e do futuro. Não importa a idade, o sexo, a cor, os bens que ele tem ou o time do seu coração. A amizade é uma relação efetiva que nasce na escola da vida, e não termina seja qual for a distância e a extensão do tempo de convívio.
Amor e amizade são afetos parecidos que envolvem afetos, mas são diferentes na questão liberdade e exclusividade. No amor nada pode ser dividido. É um mais um, e a posse é privativa, enquanto na amizade o compartilhamento é livre, não aprisiona, não gera explicações, não pede licença, não existe egoísmo, nem ciúme nem inveja. Se se desgasta, eventualmente, por descuido ou vontade, o afeto não acaba, logo surge a conciliação e o culpado é absorvido e tudo é esquecido.
Amigos há de todos os tipos: o amigo, o grande amigo e o amigão. E seguem outras fontes: amigo de infância, de faculdade, de trabalho, de igreja, de internet, de clube, de orações, de pescaria, de viagens, de bagunça, de bar, de confidências, de vizinhança, e também os amigos dos amigos. O que não pode existir é o amigo mais ou menos, amor mais ou menos e amizade mais ou menos.
Amigo, amigo mesmo, não é muito cerimonioso, não tem cargo, hierarquia, qualificação, categoria, beleza, feiura, bens, poder. Eles não têm lado B, estão no mesmo nível, nem mais nem menos ricos, nem mais nem menos sábios. Amigo não se gaba, não alardeia, não abusa, não aproveita.
Amigo é o cara que lembra alguma frase que você disse há anos, lembra uma piada sua, momentos bons e tristes, sua música preferida, a marca de seu carro, seu hobby, aparece em sua casa sem avisar, se não avisar ou não vier, tanto faz, será sempre bem-vindo.
Amigo pode esquecer a data de seu aniversário, conhecer ou não sua família; perdoa, entende o outro, e tem o direito de até não rir de sua piada sem graça. Ele tira fotos de onde está e envia para você, tem segredos guardados a sete chaves.
No entardecer da vida é que eles são mais lembrados, e que não tê-los seria tão ruim quanto uma doença, ou mais.
Como viajar sozinho, comer um espaguete, uma pizza, tomar um chope, um vinho, sozinho? Nada pode ser celebrado sem amigos. Como não ter alguém ao lado num leito de hospital?
Certa vez um pai dizia ao filho que ia casar:
“Filho, nunca esqueça seus amigos! Eles serão mais importantes em sua vida à medida que você for envelhecendo. Independente do quanto você ame sua família, os filhos, que porventura venha a ter, você sempre precisará de amigos. Cuide deles. Lembre-se de vez ou outra ir a lugares com eles. Faça coisas com eles. Telefone para eles”.
Com o passar do tempo o filho compreendeu que seu pai sabia o que falava. Percebeu que o tempo e a natureza realizam mudanças nos homens e que sempre chega a hora em que os sonhos se tornam realidades, e que, de repente, ficamos sozinhos. Nesses momentos os amigos são mais importantes do que todas nossas conquistas e nossos bens.
A distância separa, os filhos crescem, os amores ficam frouxos, as pessoas não fazem o que deveriam fazer, as carreiras levam os filhos para longe e seguem suas vidas, embora nem sempre como os pais gostam.
Amigos verdadeiros sempre estão presentes, não importa o tempo e a distância, mas nunca estarão mais distantes do que o alcance de nos esperar de braços abertos.
Não existe papo mais gostoso do que o dos velhos amigos. Histórias, recordações, viagens, amores, tudo pode ser lembrado ao aconchego de uma varanda, à mesa de um restaurante, conversando, não com um desconhecido, mas com os velhos amigos.
“Quando iniciamos nossa aventura chamada vida não sabíamos das incríveis alegrias e tristezas que estavam adiante, nem o quanto precisaríamos uns dos outros”.
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Plínio Montagner, professor aposentado