Elda Nympha Cobra Silveira
Procurem reparar como começamos a sentir dificuldade ao conversar com os jovens. Fui comprar um rouge ou ruge e a balconista ficou com cara de paisagem, pois não conseguia entender o que eu estava pedindo, até que mostrei o produto na prateleira da loja e descobri que ela não sabia porque simplesmente ela conhecia por outro nome. O nome correto agora para esse produto era blush, assim também fui tateando ao falar, para não dar vexame e indiquei o pó de arroz, que é agora, pó compacto e também o brilho, que é conhecido pelo apelido de gloss.
Achei que a balconista estava com “problemas de moça ou de chico” mas parece que não estava com TPM, era talvez estupefação ou crise de nervos, hoje stress.
Comprei o que necessitava e saí da loja me sentindo uma Matusalém. Na cabeleireira não se diz mais peruca, é aplique, interlace, megahair, alongamento até chapinha.
Ao comprar um maiô a tanga virou fio dental e o fio dental virou antisséptico bucal.
Suas fotos, se quiser, coloque num álbum, mas para que todos possam ver coloque nas Redes Sociais, ou melhor, ainda mande para o pessoal nos WathsApp, que é mais rápido, prático e mais usado e pode dizer o que quiser. Mas não se esqueça: tem que falar curto e só amenidades, que coisa séria todo mundo reclama. Fale de pegação não mais paquera e conte que o casal foi visto não na dança de salão, mas na gafieira ou no shopping não na praça. O namoro agora é virtual e pode-se até mandar torpedo pelo celular, pois não é bomba. O samba é bom, mas falam pagode. Os grandes nomes de talento da música hoje são anjos, estão tocando harpa.
Se for andar de bicicleta será de bike. Quando conversar com alguém se ouvir alguma coisa inventada não estranhe… Ninguém está mentindo ou inventando fofoca, é o modo de falar agora. A bala nem sempre é para chupar fala-se bala perdida.
A sociedade ficou incapaz mascarando maracutaia e a guerra suplantou a paz.
Todo noticiário seja de qualquer mídia nos estarrece com temas de guerrilhas, terrorismo, bala não só perdida, mas direcionada nos colégios onde estudantes desvairados são notícia pelos seus crimes não por terem ganho prêmios. Aliás, os professores hoje perderam o respeito não só dos alunos, mas dos Governos que preferem eleitores ignorantes sem estudo, porque será mais fácil manipular esse povo inepto.
Temos nossa hierarquia quanto nossa história, mas estamos desvirtuando nossas origens, as músicas estão com letras banais e ridículas e a dança perdendo sua elegância e partindo para o grotesco mais parecendo passos de ginástica aeróbica. Estamos longe das músicas finas e de qualidade.
O piano já está ficando superado pelo teclado, não que não tenha seu valor, mas o teclado reina de tal maneira que muito poucos sabem o que é um piano. Precisamos assistir mais André Rieu para refinarmos nosso gosto musical porque infelizmente está deteriorando. Quando vejo músicas grotescas cantadas e dançadas com trejeitos à la Gretchen penso em Platão quando escreveu “A República”! Quando disse do efeito nocivo na mente dos jovens por alguns tipos de música. A música não seria apenas um divertimento banal como está ocorrendo, mas uma contribuição ética, estética e educacional tanto na formação do caráter individual quanto a constituição de uma sociedade sadia. Tanto as músicas como as danças estão muito vulgares e vulgarizadas
Não estou sendo retrógrada, mas não podemos achar que tenham estética e beleza. São usados termos chulos e desrespeitosos para com as mulheres e preconceituosos.
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Elda Nympha Cobra Silveira, escritora, artista plástica, membro da Academia Piracicabana de Letras (APL)