Pelo que, então, estamos lutando?

Sergio Oliveira Moraes

 

Novo biênio, novos membros na Mesa Diretora, nas Comissões Permanentes da Câmara Municipal. Ajudou e ajuda-me a leitura integral do Regimento Interno da Câmara, em particular o Título V – Das Comissões.

Todas têm sua importância, mas tenho particular apreço pela definida no Artigo 61 – reproduzo: “Compete à Comissão de Educação, Esportes, Cultura, Ciência e Tecnologia, emitir parecer sobre os processos referentes à educação, esportes e lazer, cultura, ensino e artes, à pesquisa tecnológica e científica, ao patrimônio histórico e à nomenclatura de vias, logradouros e próprios municipais.”. Escapa-me a compreensão do que seriam: “próprios municipais”, fora esse desconhecimento, ótimo. O apreço é pela importância dos temas que engloba. Tomara pudéssemos todos participar igualmente de todos. Educação para respeitar o outro, o ambiente, o acesso aos esportes: “mente sã em corpo são”; lazer em praças e jardins aconchegantes; cultura para participar do mundo em que vivemos; ensino de qualidade para aprender a pensar; artes, “porque a vida não basta” – como disse o poeta. Aspectos imediatos que me vêm, só para falar um pouquinho do que está no nosso dia a dia. Mas suas atribuições vão além.

Impossível não enxergar as dificuldades que essa comissão enfrentará. Não há como não enxergar que estamos doentes, doentes no país, na cidade. Eu não saberia dimensionar o que significaram, em termos de país, os cortes nas áreas de atuação da Comissão nos anos 2019-2022, a destruição no 8 de janeiro. Explico: o prejuízo na educação mede-se em gerações, o que já era ruim, piorou. O mesmo vale para pesquisa científica, tecnológica, artes e segue.

Localmente, os dois anos passados foram particularmente terríveis para essas áreas também. Anos de não-Pinacoteca, não-cuidado com seu acervo. Não-Observatório Astronômico. Não-UNIMEP. Não-Escola de Música. Anos em que quase uma Medalha de Mérito Estudantil homenageou um personagem que desprezou a educação formal, negou a ciência e a palavra, trocando-as pela agressão ao outro (que sem pudor exaltou o vício do fumo, negando seus danos à saúde). Não fosse a Comissão de Educação, Esportes, Cultura, Ciência e Tecnologia, não fossem os vereadores e vereadoras que lutaram contra e aqueles e aquelas que a engrossaram e apoiaram, votando contra, e a homenagem teria sabotado a Campanha Antitabagismo “Paradas de Sucesso,” para dizer um mínimo. Lutaram todos e todas pela Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, além de Saúde!

Foi também a Comissão, que ao dar parecer contrário, inviabilizou o projeto que propunha o nome do mesmo personagem para uma praça em nossa cidade. Além de todo o desgaste, desperdício de tempo e dinheiro do contribuinte, preservou mais uma vez os jovens de um péssimo exemplo. E, como se diz, isso não tem preço. Tal ação pela “nomenclatura do logradouro” foi de novo uma luta pela Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, além de Saúde.

A pergunta que sempre volta deve-se a um artigo do escritor Leandro Oliveira, intitulado “A Batalha da Cultura” (10/04/2019): “No meio dos esforços da Segunda Guerra, Winston Churchill foi solicitado a cortar o financiamento dos museus. Ele deveria centrar gastos no orçamento de combate. “Mas se não é pelas artes, pelo que então estamos lutando?” – teria dito o Primeiro Ministro Inglês.” (https://estadodaarte.estadao.com.br/a-batalha-da-cultura/). Refaço-a em seus detalhes: “Mas se não é pela educação, pelos esportes e lazer, pela cultura, ensino e artes, pela pesquisa tecnológica e científica, pelo patrimônio histórico e à nomenclatura de vias, logradouros e próprios municipais, pelo que então estamos lutando?”.  Desnecessário dizer que tenho particular apreço por essa pergunta.

 

Sergio Oliveira Moraes, físico e professor doutor aposentado Esalq/USP

 

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