Alvaro Vargas
Em dois episódios distintos na Judeia, Jesus curou um cego na cidade de Jericó, e outro em Jerusalém. O cego em Jericó, se chamava Bartimeu, conforme citado porMarcos (10:46-52), Lucas (18:35-43) e Mateus (20:29-34). Contudo, eles não descreverama origem da cegueira, em contraste com o cego em Jerusalém, identificado como portador da moléstia desde o seu nascimento (João, 9: 1-34). No caso de Bartimeu, sentado à beira do caminho, mendigando,clamou por misericórdia quando soube da presença do Messias. Foi repreendido pela população, mas reiterou a rogativa. Ouvindo-o, Jesuso chamou à sua presença e indagou o que desejava. Ele solicitou a sua cura. Após recuperar a visão, o cego, agradecido, oseguiu. Nitidamente, Jesus respeitou o seu livre arbítrio, antes de curá-lo, ao perguntar o que desejava, para só então ministrar as suas energias benéficas e livrá-lo da enfermidade. Na visão espírita, habitamos um mundo de provas e expiações, necessárias ao nosso processo evolutivo. Embora a maioria das nossas afliçõespossam terrelaçõescom iniquidades praticadas em existências pregressas, elas também podem ser uma consequência de uma solicitação voluntária para vivenciarmos uma prova, objetivando avançar mais rapidamente em nossa senda evolutiva.Independentemente das razões, Bartimeudemonstrou haver superado a sua prova (ou expiação) da cegueira, tornando-se eletivo à cura.
Conforme o espírito Emmanuel (Caminho, Verdade e Vida, cap. 44, Chico Xavier), o encontro de Bartimeu com Jesus foi “o de um miserável com o representante da Misericórdia Divina na Terra. Nessa oportunidade tão magnífica, ele pediu para ver, e o objetivo desse cego honesto e humilde deveria ser o de todos os homens”. Interessante é que neste evento, Bartimeu jogou fora a capa que usava, e saiu correndo ao encontro do Mestre, que após acalmá-lo, restitui-lhe a visão. O espírito Emmanuel (op. Cit., cap. 98), considera o gesto de despojamento da capa, um atosimbólico precioso. “Se alguém deseja sinceramente a aproximação de Jesus, para a recepção de benefícios duradouros, deve lançar para fora de si a capa do mundo transitório. Buscar, apresentar-se ao Senhor, tal qual é, sem a pretensa intangibilidade dos títulos efêmeros, sejam os da fortuna material ou os da exagerada noção de sofrimento”.
Com relação à cura do cego de nascença, os discípulos perguntaram a Jesus: “Mestre, foi o pecado desse homem, ou dos que o puseram no mundo, que deu causa a que ele nascesse cego?”. Jesus respondeu: “não é por pecado dele, nem dos que o puseram no mundo; mas, para que nele se patenteiem as obras do poder de Deus.” (João, 9: 2-3). Esse questionamento evidencia que o colegiado galileu detinha o conhecimento da reencarnação, pois, sendo um cego de nascença, a falta teria de ter sido cometida emalguma existência pregressa. Conforme o Mestre esclareceu, este não foi um caso de expiação cármica, mas de prova, e que, pelo mérito da vivência correta, teve abreviada a sua provação. Fato impressionante é a cegueira espiritual dos rabinos do templo com relação a este evento (João, 9: 18-34), tentando imputar a Jesus um desrespeito às leis de Deus, devidoà cura ter ocorrida no sábado. Um fato desta natureza, nunca registrado na história dos judeus, foi ofuscado pelo fanatismo religioso dos rabinos, incapazes de compreender estarem diante do Messias. O cego foi então expulso do grande templo judaico (similar a excomunhão por algumas seitas cristãs). Nos dois acontecimentos, Jesus não realizou nenhum milagre. Apenas se utilizou de suas energias para curar os enfermos, em um processo em queembora não saibamos descrever na atualidade, a ciência eventualmente explicará melhor no futuro. O principal objetivo da missão do Mestre nazareno não foi à cura física, mas moral, ensinando-nos a libertação das mazelas morais através dos seus ensinamentos.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita