Moisés e as pragas do Egito

Álvaro Vargas

 

No livro Êxodo é descrito que quando o faraó tentou impedir os hebreus de deixarem o Egito Deus lançou uma séria de pragas contra aquela nação.  A visão das religiões judaico-cristãs é a de que o faraó Ramsés II (reinou entre 1270 a.C. e 1213 a.C.), não permitiu que os hebreus partissem de suas terras e por isso sofreu uma série de maldições. A primeira foi a transformação da água do rio Nilo em sangue, seguida por invasões de rãs, piolhos, moscas, morte do gado, chagas nas pessoas, chuva de pedras, nuvens de gafanhotos, trevas e morte dos primogênitos. Ao fim de tantas tragédias, Ramsés II finalmente concordou com a saída dos hebreus do Egito. Mas dois aspectos necessitam ser melhor analisados: (1) Deus lançaria pragas contra uma nação? (2) Já que segundo os arqueologistas não existe qualquer registro sobre o êxodo dos judeus, o que de fato ocorreu?

Pesquisas mais recentes sugerem que não foi Ramsés II o faraó que enfrentou Moisés, mas sim Ahmose I (oitava dinastia) em torno de 1500 a.C. e sugerem que os arqueologistas não encontraram vestígios da passagem de Moisés e registros sobre o êxodo porque pesquisaram a época equivocada. O jornalista e escritor Simcha Jacobovici (Êxodo decodificado, History Channel), sugeriu que uma gigantesca erupção no vulcão Thera, que fazia parte das ilhas Santorini (Grécia), causou uma sequência de eventos há cerca de 3.500 anos que foram interpretados como pragas de Deus. A primeira “praga” teria sido a proliferação de microrganismos que deixou o rio Nilo com cor avermelhada, dando sequência a uma série de eventos como a mortandade de peixes por falta de oxigênio, infestação das rãs que deixaram o rio e os brejos, morte de animais por falta de água que em decomposição atraíram insetos que disseminaram doenças, etc.

Deus criou leis perfeitas que regem o universo. Os eventos naturais que assolaram o Egito iriam ocorrer de qualquer forma dentro do ciclo das provas coletivas que periodicamente assolam as nações conforme a lei de “ação e reação” (ex.: a destruição das cidades romanas, Herculano e Pompéia pela erupção do vulcão Vesúvio, devido aos desregramentos morais da população). Assim, Moisés pela sua mediunidade foi orientado pelos mentores espirituais para agir no momento certo, antes do colapso ambiental no Delta do Nilo, de modo a pressionar o faraó para libertar os hebreus do cativeiro devido à missão a ser desenvolvida pelos hebreus, como de fato ocorreu, que foi o decálogo recebido mediunicamente por Moisés através dos emissários do Cristo no Sinai e mais tarde os ensinamentos de Jesus na antiga Palestina. Assim como o nosso carma pode ser atenuado conforme a nossa conduta, o carma do Egito também poderia ter sido abrandado se desde o princípio a conduta do faraó e da população egípcia tivesse sido diferente, a exemplo da cidade Assíria de Nínive que foi poupada de uma calamidade ao ouvir o profeta Jonas e se redimir (Jonas, 3:1-3). De acordo com o espírito Yvonne Pereira (médium Wallace Neves, “Encontros com Jesus”) Moisés veio com a destinação de trazer os mandamentos da lei Divina para que se tornassem hegemonia de conduta e de profunda assimilação. Urgia a libertação da vida escrava, da submissão, da perniciosa influência das crenças egípcias a contaminarem o coração do homem, em que sutilmente já se instalavam, por comodismo de uns e subserviência de outros.

É certo concluir que os eventos calamitosos que ocorreram no Egito tinham por objetivo convencer os escravizadores para que procedessem à libertação do povo hebreu. Além disso, também serviu para estimular a fé amortecida dos hebreus e fortalecer a crença no Deus único. Moisés necessitava de apresentar um Deus poderoso e vingativo devido ao nível evolutivo dos hebreus, e ao enfrentar o faraó, atribuindo a si próprio um poder de comunicação com a Divindade conseguiu dobrar a resistência daquele povo e conseguiu convencê-los a seguir uma jornada difícil e arriscada.

 

Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

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