Alvaro Vargas
O fenômeno da multiplicação dos pães e dos peixes, conforme relatado pelos quatro evangelistas, é considerado um milagre por algumas seitas cristãs. Ocorreram na Galileia, duas vezes, em ventos distintos, um próximo à Betsaida, e outro na região de Magdala. No primeiro episódio, Jesus utilizou cinco pães e dois peixes, alimentando cinco mil pessoas, sobrando doze cestos com pedaços desses alimentos. Em outra circunstância, quatro mil pessoas tiveram a fome saciada, a partir de apenas sete pães e alguns peixes, sobrando sete cestos repletos de alimentos. Nesses eventos, o Mestre nazareno se preocupava com a multidão que o seguia: “Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho” (Mateus, 15:32). Esses acontecimentos estão confirmados pelo espírito Emmanuel (Caminho, Verdade e Vida, cap. 25, Chico Xavier), relatando que Jesus “recebeu as migalhas dos alimentos ofertados pelos apóstolos, sem descrer de sua preciosa significação e mandou que todos se assentassem, pediu ordem e harmonia, e distribuiu o recurso com todos, maravilhosamente”. Esses milagres citados nos Evangelhos são fenômenos naturais, cujas causas, embora desconhecidas pela ciência, de fato ocorreram e, podem ser explicadas pelo Espiritismo.
Allan Kardec (A Gênese, cap. 15, item 48) considera a possibilidade de ter Jesus eliminado a sensação de fome, não por materialização de pães e peixes, mas pela irradiação de suas energias magnéticas sobre a multidão. Não podemos esquecer, contudo, que em outras oportunidades, Jesus agiu sobre as propriedades da matéria, modificando-a, conforme a transformação de água em vinho, nas bodas de Caná (João, 2:1-2). De acordo com Caibar Shutel (O Espírito do Cristianismo, cap. 11), “de duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que pressurosa seguia seus passos: o pão para o corpo, e o pão para a alma, que sacia a fome do espírito”. Portanto, é possível que além de atenuar a fome da multidão pelo seu magnetismo, conforme citado Kardec, Jesus também tenha materializado os alimentos. Na visão do espírito Emmanuel (Palavras de Vida Eterna, cap. 9, Chico Xavier), “o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes denotou a precaução de Jesus no sentido de alertar os discípulos para a necessidade de algo apresentar à Providência Divina como base para o socorro que suplicamos. Em verdade, o Mestre conseguiu alimentar, milhares de pessoas, mas não prescindiu das migalhas que os apóstolos lhe ofereciam”. Segundo o espírito André Luiz (Mecanismos da Mediunidade, cap. 26, Chico Xavier e Waldo Vieira), “a materialização de pães e peixes ocorreu da mesma forma que espíritos e objetos são materializados, até porque sobraram cestos contendo parte desses alimentos”.
A materialização de alimentos também está citada no Velho testamento, com Elias que multiplicou a farinha e o azeite da viúva de Sarepta (I Reis 17: 8 – 16) e Elizeu, que reproduziu o azeite de uma viúva (II Reis 4: 1 – 7). Embora possa causar surpresa aos leigos, os fenômenos de materialização têm sido documentados em vários centros espíritas, onde as almas daqueles que já desencarnaram se fazem visíveis (Fenômenos de Teletransporte e Materialização de Espíritos, Paulo C. Fructuoso). Os trabalhadores do Mundo Maior também podem trazer, de locais diferentes, flores, jornais, pães etc. Para isso, são utilizados, o ectoplasma dos médiuns e as energias do mundo espiritual, adicionados aos fluidos obtidos junto à natureza. Para Jesus e os espíritos que o acompanharam, essa multiplicação de pães e peixes não foi um obstáculo. Como médium de Deus, demonstrou que detinha plena capacidade de atuar na fenomenologia física, curando os enfermos, acalmando as tempestades, andando sobre as águas e principalmente, surgir materializado aos seus discípulos após o martírio do Calvário, atestando a vida após a vida.
Alvaro Vargas, Eng. Agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita