Alvaro Vargas

 

Aprimeira grande revelação de Deus à humanidade, trazida até ao médium Moisés pelos espíritos mensageiros de Jesus, é o decálogo, um código universal de justiça, que serviu de base para o estabelecimento do cristianismo pelo Mestre nazareno, através da sua Boa-nova. Ao analisarmos o Velho Testamento, devemos considerar que os valores morais daquela época, não são equivalentes aos atuais. A violência e a escravidão eram aspectos comuns, imperando a lei do mais forte. Em regime de servidão, o povo hebreu se encontrava há três séculos no Egito, e havia adquirido a crença no politeísmo. Sem perspectivas de melhora socioeconômica, limitavam-se a uma vida que obedecia aos princípios básicos da sobrevivência, alimentar-se e procriar. Para converter esse povo ao monoteísmo e convencê-los as deixar o Egito, em uma jornada difícil através do deserto, Moisés apresentou Jeová como um deus rancoroso e vingativo, que punia barbaramente quem ousasse desobedecê-lo. Ele teve êxito em sua missão, e os meios utilizados para atingir os objetivos propostos, provavelmente foram necessários, nas circunstâncias em que se encontrava. O Espiritismo esclarece que a nossa evolução não dá saltos. É um processo gradativo, que requer inúmeras reencarnações, de modo a desenvolvermos a inteligência e os sentimentos. Jesus aguardou a evolução moral dos judeus, para reencarnar e esclarecer que Deus é um Pai bondoso.
O Velho Testamento é um documentário da saga e da evolução moral do povo hebreu até a vinda do Messias. Ao deixarem o Egito, o atraso moral que detinham, limitava-os no exercício da misericórdia com os vencidos. Sua crença, equivocada, assumia a premissa da existência de um Deus de Israel, monopólio dos israelitas, devido a aliança estabelecida com Ele. A Terra Prometida, mesmo habitada por outros povos lhes pertencia por direito divino, portanto, poderiam ocupá-la e massacrar a sua população. Foi assim, na sua primeira grande batalha, ao invadir a cidade de Jericó (1400 a.C.), onde todos os seus habitantes foram mortos. As demais cidades da região, não tiveram um destino diferente, conforme documentado nas Sagradas Escrituras. Trabalhando na evolução desse povo, Jesus enviou os seus mensageiros, de modo que desenvolvem a compaixão, desde a sua saída do Egito. “Se você encontrar perdido o boi ou o jumento que pertence ao seu inimigo, leve-o de volta a ele. Se você observar o jumento de alguém que o odeia caído sob o peso de sua carga, não o abandone, procure ajudá-lo” (Êxodo, 23:4-5). Passaram-se cinco séculos, e com o reino de Israel em sua plenitude, o sábio rei Salomão, ensinou: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber” (Provérbios, 25:21). Entretanto, foram ainda necessários mais dez séculos, até que o povo judeu reunisse as condições morais de assimilar os ensinamentos de Jesus, e se tornarem, como povo escolhido por Deus, o porta-voz da segunda grande revelação divina, divulgando a sua Boa-nova.
Do êxodo do Egito até a vinda do Messias se passaram quinze séculos, e mesmo assim os judeus, em sua grande maioria, o rejeitaram, à exceção dos essênios (A Grande Espera, cap. 17, Eurípedes Barsanulfo e Corina Novelino). Durante três anos Jesus estabeleceu o roteiro a ser seguido por toda a humanidade, utilizando um vocabulário simples que todos podiam compreender. Os seus ensinamentos, além da exemplificação da caridade, são suficientes para compreendermos o infinito amor de Deus para com todos nós. Se ainda hoje algumas seitas cristãs insistem na necessidade de sermos tementes a Deus, é porque não compreenderam Jesus, pois segundo o próprio Mestre, “Deus é amor” (João, 4:7-21). O Pai celestial não pune ninguém. As experiências difíceis que vivenciamos são as colheitas das nossas semeaduras indevidas, nesta e nas existências pregressas. Devemos temer apenas as nossas mazelas morais e fazer o possível para superar as más inclinações, na certeza do amor e da proteção divina.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo-Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

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