Reinventar a política como serviço à cidadania

Adelino F. de Oliveira

 

A política consiste na arte de organizar a sociedade visando o bem coletivo. Como arte, a política é produção histórica, criada a partir de um contexto determinado, com a finalidade específica de estruturar a sociedade. Há várias formas de se exercer o poder político, o que interessa agora é como reconstruir a política, para que a vida em sociedade seja boa para todos os cidadãos, sem que ninguém fique de fora.
O processo de reconstrução da política passa, necessariamente, por garantir representatividade e diversidade nos espaços de poder. Isso significa que é fundamental que indígenas, mulheres, população LGBT, negras e negros, classe trabalhadora em geral tenham voz ativa e sejam autênticos protagonistas nas diversas esferas do poder – seja no executivo, no legislativo e no judiciário. A representatividade com diversidade é ponto chave para se romper com uma lógica do poder concentrado nas mãos de um único grupo social.
A formação para a cidadania política é condição sine qua non no processo de reinvenção da política. Uma formação que passa pelo conhecimento dos direitos e também dos deveres próprios da vida em sociedade. Conhecer os direitos para melhor perceber e denunciar as situações em que estes são, sistematicamente, violados ou mesmo negados. Conhecer os direitos para poder melhor reivindicá-los, defendê-los, aprimorá-los, fortalecê-los, ampliá-los e também universalizá-los. Conhecer os direitos para que a vida em sociedade seja aberta e plena em possibilidades para todas e todos.
A aparente redundância da expressão cidadania política guarda, justamente, a intenção de reforçar o sentido complementar dos termos. A cidadania é construída a partir da ação política comprometida com a ética da justiça. Todo cidadão é também um agente político. Cabe à política garantir as condições básicas para que a cidadania, no sentido mais pleno, torne-se uma realidade para todas as pessoas, superando a lógica da perversa exclusão e da desigualdade. É por isso que a política precisa ser reinventado, na perspectiva ética, da justiça e do direito.
A miséria e a fome lançam a pessoa na mais profunda indigência. É inaceitável conviver com tanta injustiça social e ambiental. Sofre o ser humano, sofre também a natureza. Essa realidade representa o fracasso do projeto político. Há uma guerra aberta, declarada e impiedosa contra a dignidade humana. É urgente que a sociedade se levante, reivindicando um outro lugar para o fazer político. É tarefa da política, em um processo de reinvenção, enfrentar e superar toda essa realidade de violação e negação dos direitos de cidadania.
A dinâmica de reinvenção exige que o próprio termo política alcance um outro significado perante a população. A política deve ser compreendida agora como serviço, espaço de projeção de ideias e projetos, buscando sempre aprimorar a sociedade para que todos os cidadãos tenham acesso aos direitos fundamentais. Reinventar a política, rompendo com toda lógica de exploração e exclusão, em um movimento criativo, envolvendo a sociedade em seu conjunto, na direção de reafirmar a democracia e os direitos de cidadania. A política deve ser, antes de tudo, o mais diligente serviço à cidadania.
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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião. E-mail: [email protected]. Mídias sociais: @Prof_Adelino_

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