Ronaldo Almeida
Inicialmente louvando sempre a nossa ancestralidade, a Exú, senhor da destreza, da comunicação, que com a sua força olhe pelos nossos caminhos sempre, o meu motumbá, kolofe makuiu, saravá, o meu pedido de benção aos mais velhos e aos mais novos irmãos da fé em Orixá.
Como podemos fazer nossos pedidos, fazer nossos ebós darem certo? É de conhecimento público, que, primeiramente temos que ter um bom Ocan (coração), termos um Ori(cabeça) bom, com foco e discernimento, além é claro do conhecimento da liturgia.
Mas o que temos notado é que muitos se esquecem de um importante detalhe, que sem a preocupação com as moradas naturais dos Orixás e encantados, pode por tudo a perder, a cerimônia, a oferenda seja ao Orixá e encantado que for.
No contato com o Orixa, temos que dialogar com a natureza, os Orixás são a própria natureza e suas manifestações, a partir do momento que vamos louvar o sagrado poluindo a natureza, perdemos toda a graça que estamos ali pedindo e pior, contrariamos e ofendemos muito Orixá.
Hoje, se vamos para o mato levar um agrado ao Orixá não vamos levar no alguidar (prato de barro), é muito bonito, fino, servir uma comida ao Orixá no alguidar, não que a natureza não mereça servir a oferenda de Orixá no alguidar, bem enfeitado, bonito.
Mas depois que os animais comerem aquela oferenda, aquela comida, o barro do alguidar para se decompor levará anos e qualquer chuvinha será um criadouro natural para o mosquito aedes egypt (mosquito da dengue), isso é apenas um exemplo da importância em se preocupar com isso.
A comida quando se leva para a natureza, podemos colocá-las e folhas de mamonas, folhas de bananeira, cabaças, que são de rápida decomposição e não irá agredir o meio ambiente.
Pois se formos para a mata, na beira da praia, na beira do nosso glorioso Rio de Piracicaba, por exemplo, e levarmos garrafas, vidros, pratos de louça, plásticos, isso será uma agressão à natureza e com isso a nossa oferenda a Orixá perderá todo o efeito, pois essas coisas que a natureza não consegue absolver vai degradar ainda mais o meio ambiente.
Citei nosso Rio Piracicaba, pois bem, os presentes as águas que nós, das religiões dos Orixás praticamos, a Oxum nos rios e cachoeiras, Iemanjá no mar, os brincos, pulseiras e perfumes que são oferecidos não tem a necessidade de irem nas entregas, no terreiro são louvados, sacralizados e deixemos nos quartos sagrados onde habitam os Orixás dentro do terreiro.
Louvar, cantar e adorar Orixá é também é deve ser um dever de todo adepto das religiões de matrizes africanas, mas sempre com essa preocupação, a religião de Orixá é para humanidade, é para deixar as pessoas bem e a natureza bem, preservada, as pessoas vão ficar bem.
Outro exemplo a ser dado é quando encontramos oferendas nas encruzilhadas, primeiro não vejo necessidade de se deixar em áreas urbanas, coloca a sua oferenda na folha de mamona, no pé de uma árvore, na “moita”, a espiritualidade irá receber o seu agrado com muito mais responsabilidade.
Em 2022, é necessário que todos os amantes das religiões dos Orixás reflitam sobre isso, a preservação na natureza é a preservação dos Orixás.
Axé para quem é de Axé!
Axé para todo mundo Axé
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Pai Ronaldo Almeida, religioso de Matriz Africana