Ensino: de boca de sertão a cidade cosmopolita

Marly Perecin defende o ensino sobre a antiga Piracicaba no ensino básico e fundamental

Como parte dos eventos comemorativos dos 54 anos de criação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), em 1957, a professora e historiadora Marly Therezinha Germano Percin – integrante do primeiro grupo de intelectuais da cidade que lutaram pela criação do instituto, do qual foi presidente de 1988 a 1989 – chama a atenção para o fato de o ensino básico e fundamental em nossa cidade ter praticamente deixado para um plano remoto as origens históricas do município, o que esmorece a força originária para a constituição do primeiro povoado, até se tornar a cidade como a conhecemos e ocupar posição de destaque no cenário econômico nacional. “Nos inícios de Piracicaba, essas conquistas eram inimagináveis”. Observa.
Marly conta que Piracicaba nasceu das águas. “E quando começou a surgir um esboço de povoamento, numa boca de sertão, esta cidade era [apenas] um paraíso de ofídios, aves e peixes, tendo o [ribeirão] Itapeva como o presépio das capivaras. Tudo isso foi mudando”. Boca de sertão, segundo ela, era um lugar remoto, o mais distante possível da civilização, o último ponto, reduto de degradados, bandidos e feras.
A historiadora recorda com encanto o fato de Piracicaba ter uma história cinematográfica, mas pouco conhecida e pouco valorizada. “O que nós mais desejamos é que a cultura Piracicabana siga a passos acelerados. Mas para isso não basta visão nos negócios, não basta visão nos projetos econômicos. Temos que ter mais visão no projeto cultural”.
Os alunos do [ensino] básico e fundamental, no entender da pesquisadora, precisam estabelecer uma relação mais forte com o passado histórico, que lembra muito os passos da emoção. Nesse sentido, considera de extrema relevância que as crianças e jovens possam “torcer para um povoador, torcer pelo Rio Piracicaba, torcer para certos momentos históricos…”
Para explicar a dificuldade que foi a consolidação do povoamento que deu origem à cidade, Marly conta que tivemos três ensaios povoadores. “Dois fracassados. O do primeiro sesmeiro, Felipe Cardoso, que investiu e perdeu tudo. Do [Capitão Correia] Barbosa, que investiu e saiu praticamente com a roupa do corpo, porque também perdeu tudo e teve que começar vida longe de Piracicaba”.
Na tentativa de salvar o povoamento, transferiram sua matriz para o lado esquerdo do Rio Piracicaba, porque ela não progredia. “Para evitar que desaparecesse do mapa, foi preciso um esforço muito grande, e o mérito está no Capitão Mor de Itu, Vicente da Costa Taques Goes e Aranha, que trouxe os proprietários rurais de Itu para a fronteira agrícola de Piracicaba. Aí se implantou a agroindústria exportadora. Em poucos anos, Piracicaba estava no mercado internacional. Daí para frente, até os dias de hoje”.
Seguindo o calendário de Aniversário de 254 anos de Piracicaba e de 54 anos de criação do IHGP, ela parabeniza os homens do passado, que tiveram visão. Apesar de terem sofrido derrotas, alcançaram pequenas vitórias. “É assim, de pequenos passos, de pequenas vitórias que se chega a um estágio realmente estável e progressista. Hoje Piracicaba é uma referência na cultura do país. Aliás, já era desde o começo do século 20. Mas hoje tem seu lugar reservado”, enfatiza.
Marly enfatiza, no entanto, um apelo para que se volte novamente a atenção para a Piracicaba antiga, especialmente nas escolas de ensino básico e fundamental. “Poderiam [para esse fim pedagógico e de valorização da história do município] decorar a nossa igreja, a nossa catedral, como fez Sorocaba com a sua história. Poderíamos ter imagens do passado histórico de Piracicaba espalhadas pelas escolas, pelos centros culturais. Tudo isso traria mais grandeza, com frutos a serem colhidos a curto e médio prazo”, conclui.

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