Pessoas em situação de rua: a importância da união

Paulo Soares

 

Passei pela praça José Bonifácio para ir ao banco e aproveitei para dar um abraço em minha amiga, Dona Nair, que tem uma barraca comercial há 20 anos no local.No momento em que conversávamos, ocorreu uma cena preocupante e assustadora: uma briga entre os moradores em situação de rua que culminou em facada.

A polícia foi acionada e chegou prontamente, mas, enquanto aguardávamos o desenrolar da situação, Dona Nair desabafou. “Venho sentindo o grande aumento de pessoas que vieram morar aqui na praça devido à crise econômica e sanitária e a população piracicabana é extremamente solidária, há uma grande mobilização de grupos que trazem refeições”, conta.

Durante nossa conversa, uma cliente da Dona Nair e moradora do edifício situado ao lado da praça se aproximou e acrescentou que evita passar pela região, mesmo durante o dia, porque os moradores em situação de rua abordam os transeuntes e em alguns casos até interferem no trabalho das agentes que atuam na Zona Azul. “Eles rasgam as notificações dos carros para conseguir gorjetas dos motoristas e jácansamos de ver isso, mas não podemos fazer nada porque temos medo de vingança”, contou ela, que preferiu não ter o nome identificado.

Ainda conversando com a Dona Nair, ela contou que a rede de apoio formada pela população civil é muito atuante, mas a organização dos apoiadores é extremante urgente porque não é raro que haja distribuição de mais de uma refeição no mesmo dia e no mesmo período, oque acaba gerando refeições descartadas até antes mesmo de serem consumidas e, com isso, há um grande aumento de pragas urbanas, como baratas, ratos, escorpiões e pombos.

Dona Nair nos contou que há alguns anos ela sofreu graves consequências de uma pneumonia bacteriana que tomou 40% dos pulmões e os especialistas suspeitam que ela tenha sido adquirida através dos pombos que vivem na praça. “Não aprofundaram as investigações, mas há sérias suspeitas que contraí dos pombos, quase morri, mas a esposa do comerciante da barraca ao lado teve os mesmos sintomas que eu e, infelizmente, faleceu”, contou Dona Nair.

Nem preciso dizer que a situação dos moradores de rua em nossa cidade está comovendo a população e, pessoalmente, estou acompanhando o empenho da EuclídiaFioravante, secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) na resolução deste drama. Participei de algumas reuniões no teatro São José para debater esse assunto e vi o trabalho dela que reuniu autoridades religiosas,comerciantes e entidades que atuam nesta rede de apoio.

Valorizo o empenho e o olhar de todos e estou pessoalmente elaborando um plano de atuação para apresentar a todos que irá, sem dúvida, melhorar consideravelmente essa situação dramática e minimizar os impactos que estão ocorrendo na praça José Bonifácio e demais áreas ao redor que sofrem com a mesma situação, inclusive a Rua do Porto.

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Paulo Soares é presidente do Caphiv (Centro de Apoio aos Portadores de Hiv/Aids e Hepatites Virais).

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