Alvaro Vargas
Dentre os espíritos que chegaram na Terra, exilados de Capela, os hebreus, representavam o agrupamento mais forte e homogêneo, mas pouco acessível à comunhão perfeita com as demais etnias nesse orbe (A caminho da Luz, cap. 7, Emmanuel e Chico Xavier). Orgulhosos e exclusivistas, necessitaram de vários séculos de servidão no Egito, como a preparação necessária para se tornarem porta-vozes da primeira grande revelação, o decálogo, recebido mediunicamente por Moisés. Outros profetas enviados por Jesus reencarnaram ao longo dos séculos preparando esse povo para receberem o Messias, que foi reconhecido apenas por alguns seguidores. A grande maioria, refutou os seus ensinamentos, pois esperavam um Messias que os liberta-se do jugo romano à semelhança de Moisés que os retirou da servidão no Egito, e os conduziu à terra prometida.
A razão de Jesus escolher a Judeia para divulgar a sua mensagem foi devido a prática do monoteísmo, mais acessíveis a sua mensagem que os demais povos idólatras. Conforme o espírito Emmanuel (Op., cit.), “de todos os povos de então, sendo Israel o mais crente, era também o mais necessitado, dada a sua vaidade exclusivista e pretensiosa. Muito se pedirá de quem muito haja recebido (Lucas, 12:39-48) e os israelitas haviam conquistado muito, em matéria de fé, sendo justo que se lhes exigisse um grau de compreensão, em matéria de humildade e amor”. Embora o pequeno colegiado galileu estivesse preparado para a missão que desenvolveu na Terra, sofreu as influências do meio em que se encontrava. Dessa forma, a comunidade cristã, de modo geral, começou a sofrer a influência do Judaísmo, e quase todos os núcleos organizados da Doutrina pretenderam guardar feições aristocráticas que se fundavam nos mais diversos pontos do mundo (Emmanuel, Op., cit., cap. 15). Os apóstolos assumiram que a Boa-nova era somente para o povo judeu, interpretando apenas o aspecto literal da mensagem de Jesus: “Não vos encaminheis aos gentios, nem entreis em cidade alguma dos samaritanos. Antes, porém, buscai as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus, 10:5-7). No seu encontro com a mulher sírio-fenícia (Marcos 7:27-28), o Mestre havia reafirmado a sua restrição com relação aos povos idólatras. Ele agiu assim porque não era o momento oportuno, pois desejava consolidar os seus ensinamentos entre os judeus, e posteriormente enviar um mensageiro específico para essa tarefa de divulgação entre os gentios.
A influência do Judaísmo chegou ao ponto de a “Casa do Caminho”, fundada pelo apóstolo Pedro, assemelhar-se a uma sinagoga, proibindo-se falar de Jesus sem antes citar Moisés. Tiago (filho de Alfeu), passou a vestir e se comportar à semelhança dos rabinos do Templo judaico, preocupando o apostolo Paulo quanto ao risco de Jesus passar para a história apenas como mais um dos inúmeros profetas que o precederam (Paulo e Estevão, Segunda Parte, cap. IV, Emmanuel e Chico Xavier). Essa compreensão de Paulo sobre os rumos das igrejas nascentes, motivou-o a divulgar os ensinamentos de Jesus para outros povos, empreendendo então as suas famosas viagens, representando um acontecimento dos mais significativos na história do Cristianismo. “As ações e as epístolas de Paulo tornaram-se poderoso elemento de universalização da nova doutrina, evitando uma aristocracia injustificável na comunidade cristã, nos seus tempos inesquecíveis de simplicidade e pureza” (A caminho da Luz, cap. 14, Emmanuel e Chico Xavier). O Judaísmo cumpriu a sua missão, preparando a divulgação do Cristianismo. Poderia ter evoluído, se Jesus tivesse sido reconhecido como o Messias e a sua mensagem incorporada ao Torá. Mas na visão de Emmanuel (Op., cit., cap. 7), “não tardará muito tempo para vermos os judeus compreendendo integralmente a missão sublime do verdadeiro Cristianismo (Espiritismo), aliando-se a todos os povos da Terra para a caminhada salvadora, em busca da edificação de um mundo melhor”.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita