Mais que juventude

Edson Rontani Júnior

 

Não apenas a juventude, mas sim toda a sociedade se mobilizou em 1932 quando, em 23 de maio daquele ano, começava uma marcha pela democracia no Brasil. A data passou a ser lembrada como o Dia da Juventude Constitucionalista – em Piracicaba há decreto legislativo criado em 2017 -, em lembrança à morte de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que formaram o MMDC, sociedade civil secreta que articulou o levante contra o governo de Getúlio Vargas.

Historicamente, foi neste dia em que, na capital paulista, a população foi às ruas num movimento que exigia uma nova Constituição no país. Os manifestantes foram recebidos à bala pelos simpatizantes de Vargas que ocupavam um prédio na praça da República. Foi o estopim para que, de 9 de julho a 2 de outubro de 1932, os paulistas pegassem armas e evitassem o avanço das tropas federais vindas do Mato Grosso, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O saldo resultou em mais de 900 mortos pelo lado paulista, número superior às mortes ocasionadas pelo envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

O fervor pela causa fez com que a sociedade toda se mobilizasse, tendo como liderança personalidades como Luiz Dias Gonzaga (prefeito na época), Alberto Vollet Sachs, Sebastião Nogueira de Lima, Aldrovando Fleury, Mário Neme, Thales Castanho Andrade  e outros, que, além de coordenar as ações dos “voluntários de Piracicaba” também empunharam armas e foram aos frontes de batalha. A Revolução de 1932 pode ser considerada uma “guerra de trincheiras”, assim como foi a Primeira Guerra Mundial: o objetivo era evitar o avanço das forças federais para o interior do estado de São Paulo.

Piracicabanos foram coordenados, nos combates, pelo tenente do exército Boaventura. Em Piracicaba, a liderança era do tenente do exército Augusto Gomes, chefe do Tiro de Guerra 542. Vollet Sachs secretariou a primeira reunião que criou o 1º. Batalhão Piracicaba, também denominado de Batalhão Piracicabano e Batalhão Noiva da Colina pela imprensa local. Esses jovens foram alcunhados pelas forças federais de “Columna Maldita”, por sua sagacidade e atitudes mercenárias junto aos prisioneiros ou nas ações de patrulha e assalto.

Duzentos destes piracicabanos deixam a cidade no sábado, 16 de julho de 1932, e partem pelos trens da Cia. Férrea Paulista rumo a Quitaúna, Osasco (na época, bairro da capital paulista), quartel general do embate. A juventude constitucionalista, aceita em Piracicaba, deveria possuir mais de 18 anos. Era comum alterar espontaneamente sua idade para se alistar e evitar o vexame de estar na juventude e permanecer em Piracicaba sem defender a causa.

Assim encontraram seu derradeiro gesto de amor à pátria jovens como Ennes Silves Mello, Claudionor Barbieri, Jorge Jones e Natal Meira Barros. Este último, fugindo duas vezes de sua casa, partiu para São Paulo e, durante patrulha de reconhecimento em Pinheiros recebe uma rajada de metralhadora e morre devido à hemorragia ao ser atingido no pescoço. Tinha apenas 17 anos de idade.

Não existem registros concretos sobre a participação de escoteiros nesta Revolução. Na região, todos se emocionaram com a morte de Aldo Chioratto, escoteiro e, na função de mensageiro – a comunicação viajava pessoalmente à época – foi atingido por uma granada lançada de um avião federal. Falece devido aos estilhaços. Tinha apenas 9 anos de idade.

A ação dessa juventude, mais que juventude, motivou uma constituinte que, em 1934, definiu nova lei magna no país, cujos princípios ainda hoje vigoram no Brasil.

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Edson Rontani Júnior, jornalista

 

 

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