A morte da esperança

Tarciso de Assis Jacintho

 

A imagem mais triste que se possa supor é a de uma mãe velando um filho morto. O que dizer então de um adolescente debruçando-se sobre o caixão do pai que se despede tão precocemente ou de um bebê, o único sobrevivente de um bombardeio em meio ao conflito entre Israelenses e Palestinos? Estas imagens, que todos nós vimos nos últimos dias, emblemáticas e graves, são retratos tristes dos nossos dias em mais uma semana triste para todos nós.

“É tão estranho, os bons morrem jovens”, cantava, em um passado não tão distante, o poeta que também se foi cedo demais. Eram outros tempos como também as causas das mortes, a epidemia da  Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ceifou vidas jovens em um tempo de dores e medos. Mas os versos desta canção que retratava o amor em uma tarde nunca soaram tão atuais como agora.

A pandemia causada pela covid-19 colocou toda a população mundial em alerta. A iminência de contágio por uma doença desconhecida fez com que os indivíduos se sentissem receosos com o incerto e as consequências futuras que trará para suas vidas. Esse medo, provocado pela situação estressante, é normal e saudável, segundo os especialistas, desde que não seja excessivo.

“No contexto atual, o perigo é invisível e, por também ser desconhecido, os indivíduos não estão preparados para lidar com ele, já que, na nossa cultura, não há disponível um repertório transmitido simbolicamente para enfrentá-lo”, comenta o professor do Departamento de Psicologia da UFMG, Gilson Iannini.

O professor também aponta o atual perigo iminente da morte como fator causador do medo. “Sempre denegamos a morte, pois, no nosso inconsciente, somos imortais. Pensar sobre a própria morte pode ser muito difícil e insuportável. Neste momento, estamos diante dela. Por isso, é impossível não pensar sobre”, complementa.

Será 1este medo empedernido que nos anestesia diante de tantas mortes noticiadas aos milhares? A precariedade dos atendimentos, a insanidade dos conflitos, a tristeza de tantos em meio ao descalabro de muitos. Será que é isto que mata nossa esperança?

Os discípulos, após a morte de Jesus, perderam a esperança. ‘Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel’. O relato do evangelista também lembra que, numa das aparições de Jesus aos discípulos, depois de ressuscitado, eles estavam com as portas fechadas, com medo, pois a esperança tinha morrido. Nestes dias tristes, lembremos que nossa esperança está viva, abrindo nossas portas e consolando aqueles que sofrem, pois para isto é que Ele nos amou.

________

Tarciso de Assis Jacintho, Administrador, Coordenador Administrativo Financeiro da APFP

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima