Mamãe, tomei da vacina

Sérgio Spenassatto

 

Contar histórias e benzer tormentas é atribuição dos velhos, diz minha mãe. Não cheguei ainda na fase de benzer tormentas, atributo que pretendo desenvolver, se Deus quiser, depois dos 100 anos de idade. Então, por ora, lá vai uma pequena historinha. Primeiro quero pedir desculpas e agradecer aos profissionais, da mesa número 3, que, sábado, no Ginásio de Esportes, me aplicaram a vacina contra a Covid-19. Aturaram minha baixaria pelo medo de agulhas que me acomete.

Este meu receio de injeções tem uma razão. Lá pelo final dos anos 1940, minha mãe era operária numa fábrica de bebidas. Sofreu um acidente que a levou para o hospital por uns 30 dias. Vendo as enfermeiras fazerem curativos e aplicarem injeções nela e nos demais pacientes, acreditou ter aprendido tudo sobre enfermagem! Morando na roça, o serviço médico mais próximo ficava uns 20 km, a cavalo. Chegando lá na roça, dona de uma seringa de vidro, com uma agulha de ponta rombuda, passou a aplicar injeções e fazer curativos em todos os colonos da vizinhança. Claro que tinha o cuidado com a esterilização do material. Como substituto possível das atuais autoclaves, servia ferver água no fogão de lenha para a eliminação de vírus e bactérias, que por ventura estivessem contaminando o material.

Eu, criança, vendo aquelas injeções, desenvolvi uma pequena “paúra”, como diria a italianada de Santa Olimpia.  É claro que nem se pode comparar ao medo que acomete o presidente Bolsonaro diante da CPI que apura seus possíveis crimes frente a sua omissão ante a pandemia que já matou mais de 420 mil brasileiros. Aliás, ao que está indicando o já apurado pela CPI, sua intenção foi a de espalhar o vírus visando alcançar a chamada “imunidade de rebanho”.

Então, munido de toda a minha coragem, cheguei em frente aos profissionais e já fui avisando que, em caso de desmaio, só chamassem o Samu depois de meia hora. Acredito ser um tempo suficiente para a recuperação… Com o carinho que só quem está habituado a cuidar de gente, me ofereceram uma cadeira e cumpriram a tarefa! É claro que os comentários de “nossa ele está suando…” “vejam como seu braço está tenso…” me deixaram um pouco envergonhado.

Mas percebi um certo alívio neles, que nem precisaram de socorro médico para o bravo brasileiro que tomou sua primeira dose. Prometo que, na segunda, vou me comportar melhor!

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Sérgio Spenassatto, advogado ([email protected] (19) 9.97523292)

 

 

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