Mazelas sociais e a ausência de projetos

Adelino Francisco de Oliveira

 

Em sociedades democráticas o ideal seria que quando um determinado candidato se apresentasse para disputar um cargo eletivo no poder executivo – seja na esfera municipal, estadual ou federal – significa que ele, em conjunto com seu grupo partidário, seria portador de um projeto político previamente elaborado, capaz de apontar saídas e alternativas para a coletividade, enfrentando, com novas respostas políticas, os graves problemas socias e econômicos.

O debate em torno do programa de governo deveria ser o ponto central em um pleito eleitoral, isso para qualquer esfera de poder. A população deveria se apropriar dos programas que cada candidatura representa. As escolas, as instituições, as associações de bairro, os centros comunitários, a mídia, as igrejas poderiam promover debates e encontros, colocando em pauta e evidência as diversas concepções de sociedade que se colocam em disputa no momento eleitoral.

O candidato, além do perfil pessoal de liderança e a capacidade de aglutinar pessoas e construir consensos, é o grande porta voz de um determinado projeto de sociedade, sustentado pelo grupo político do qual faz parte. Nenhum candidato representa a si mesmo. O ideal seria mesmo que cada programa político fosse decorrente de ampla interlocução com a sociedade, de maneira a identificar suas reais e mais profundas demandas, trazendo soluções construídas coletivamente, no percurso de debates e plenárias populares.

Um ponto que deve ser ressaltado é que um programa de governo, seja qual for o grupo político que o elabore, comprometido realmente com o fortalecimento da democracia e atento às mazelas sociais, deve ser resultado de um intenso e amplo diálogo com a população. A grande tarefa política significa sempre abrir novos caminhos, construindo o bem coletivo.

Estranha-se que o Brasil tem se descuidado desse processo político tão fundamental e de suma relevância para o debate eleitoral e para o aperfeiçoamento da própria democracia. A população tem, sistematicamente, votado em candidatos sem qualquer projeto político ou programa de governo. Candidatos vazios, que não enfrentam qualquer debate, simplesmente se escondem atrás de marketing e frases feitas, revelando-se incapazes de apresentar propostas e alternativas sociais consistentes.

Uma eleição deve se constituir como um momento privilegiado para se debater e analisar as várias propostas políticas, que alicerçam concepções de sociedade. Qual sociedade queremos? Esse é o ponto. Uma candidatura precisa dizer a que veio, apresentando seu programa de governo. Não é aceitável que um presidente, governador ou mesmo prefeito inicie uma gestão pública desconhecendo as demandas sociais e sem ter clareza das decisões políticas que devem ser implementadas em sua gestão.

A exposição de ideias e o confronto de projetos consistentes no contexto eleitoral é condição basilar para a realização do processo democrático, superando o senso comum e as ideias enviesadas, assim como privilegiando o conteúdo capaz de apontar para a ampla cidadania. Tudo começa com a construção coletiva de um programa de governo, que tem como base a escuta atenta da população, fortalecendo a cidadania e a própria democracia.

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Adelino Francisco de Oliveira, Professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

 

 

 

 

 

 

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