Noedi Monteiro
Confesso minha paixão pela genealogia, a começar pelas bíblicas. Os judeus sabem as tribos a que pertencem. Saber das nações africanas e identificar nossos parentescos ser-nos-ia didático e dignificante como Chico Buarque de Hollanda faz em “Paratodos” (1993) ao identificar seus avoengos no âmbito, dos adjetivos gentílicos estaduais. Todavia, os laços biológicos e as afinidades caipiracicabanas do contexto, precisam de individualização e luz, para sua compreensão, neste universo ancestral.
O tataravô baiano de Chico é Eulálio da Costa Carvalho (1833-1912) sobrinho e conterrâneo de José da Costa Carvalho (1796-1860), o marquês de monte alegre, figura pública do Império, com estreitos laços com Piracicaba. Um bairro turístico, e uma rua gravam seu nome na cidade. Com grau de parentesco também com o Conselheiro do Império, Antônio da Costa Pinto e Silva (1826-87) com interesses comuns na cidade e nome em uma Rua na Pauliceia, Eulálio de Carvalho fixa em Piracicaba (1864) como médico e irmão da Santa Casa de Misericórdia (1873), político e ex-vereador (1869-76), homenageado, em uma avenida e numa travessa (Dr. Eulálio) na Vila Rezende. Nascido em Salvador (BA) e falecido em São Paulo (SP). Casado com Amélia Benvinda de Almeida e Costa (Costa Carvalho, 1831-97). Pais de Álvaro Augusto da Costa Carvalho (1865-1933) nascido em Piracicaba SP e falecido na Alemanha. Advogado, político, deputado (estadual e federal), senador, filiado ao Partido Republicano Paulista (PRP). Homenageado, em uma travessa no Jardim Paulista, Pauliceia, é o bisavô caipiracicabano, de Chico Buarque. Casado com Carolina Vieira Barbosa (1869-1911). Pais de Maria do Carmo Carvalho (1888-1976) a tecer, a linhagem caipiracicabana da família.
Bisavô mineiro de Chico: José Cesário de Faria Alvim (1839-1903), de Piranga MG e político. Casado com Amélia Calado de Miranda (1851-99). Pais de Francisco Cesário de Faria Alvim (1880-1946) desembargador, casado com Maria do Carmo Carvalho (Alvim, 1888-1976), neta do dr. Eulálio. Pais de Maria Amélia Cesário Alvim (1910-2010), do Rio de Janeiro (RJ), bisneta do dr. Eulálio e neta de Álvaro.
Avô pernambucano, Cristovão Buarque de Hollanda Cavalcanti (1864-1944), de Rio Formoso, PE. Professor e farmacêutico. Casado com Heloísa Gonçalves Moreira (1868-1957). Pais de Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982), paulista e paulistano. Escritor e sociólogo, autor de entre outros, de “Raízes do Brasil” (1936). Casado com Maria Amélia Cesário Alvim (Buarque de Hollanda, 1910-2010) neta de José Cesário de Faria Alvim e bisneta, de Álvaro de Carvalho. Pais de Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque), tataraneto do dr. Eulálio e bisneto do dr. Álvaro de Carvalho sobredito caipiracicabano.
Álvaro de Carvalho (1865-1933) dribla o preconceito racial e estrutural correntes do Brasil ao tomar em segundas núpcias, Maria Rodrigues Alves (Costa Carvalho, 1880-1957) em 26-12-1919, filha do quinto presidente da República (1902-1906) Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), tão afrodescendente quanto Mal. Deodoro da Fonseca (1827-92), Hermes da Fonseca (1853-1923), Afonso Pena (1847-1909), Nilo Peçanha (1867-1924), Manoel Vitorino Pereira (1853-1902), Washington Luís (1869-1954), Fernando Henrique Cardoso ocupantes do mesmo posto.
Ana Guilhermina Rodrigues Alves Pereira (1908-1990) neta de Rodrigues Alves foi esposa do jurista e senador Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990), autor da Lei n. 1.390, de 03-07-1951 – Lei Afonso Arinos. Proibia e punia o preconceito racial no Brasil. A lei foi utilizada pela primeira vez no País em Piracicaba e com sucesso, pelo advogado negro Dr. João de Almeida, no rumoroso caso de Conceição Sandoval (Ceiça Cabeleireira) impedida, de entrar num clube social da cidade.
O círculo afrodescendente do presidente Rodrigues Alves teria influenciado na elaboração da lei? Afinal, Afonso Arinos, tornou-se sobrinho de Álvaro de Carvalho e de Maria Rodrigues Alves de Carvalho.
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Noedi Monteiro, professor aposentado, mestre em educação, historiador e membro do IHGP