Camilo Irineu Quartarollo
Neste mês da mulher, mesmo não tendo uma para chamar de sua, ou se “já as teve” como Martinho da Vila, se veem cantadas desde antes de A garota de Ipanema, de Chico Buarque nomear suas canções com nomes de mulher, antes de Erasmo cantar à Roberta Close, e a despeito dos assédios dos fiu-fiu. Assédio não é cantada, é crime.
Deus fez esta criatura para ser mais que fêmea humana ou reprodutora de machinhos agressivos, a fez mulher e deu a ela o rosto de sua pessoa divina, o mundo se deslumbra diante dela. A Criação sem o feminino não tem graça nenhuma.
Apesar de toda graça feminina, o feminicídio é cantado em tom dramático, como se fosse fatalidade a ação de um criminoso frio na moda caipira Cabocla Tereza, que diz “Agora já me vinguei / É esse o fim de um amor / Essa cabocla eu matei / É a minha história, doutor”, e ele chama isso de amor?! Aparece a figura sombria do Crime Passional, como ato não premeditado, de impulso, atenuante de crimes hediondos ditos “por amor”. Salve Maria da Penha! Recentemente, no dia doze de março, o Supremo derrubou a tese dessa tal “Legítima defesa da honra”, que justificou também muitos crimes contra a mulher. Como o assassino da Cabocla Tereza, muitos buscam se esconder como se eles fossem as vítimas e contam uma história para o doutor engolir.
Segundo os estudiosos, nos primórdios a mulher criara a Cultura, pois enquanto os homens iam à caça ela plantava alimentos e cuidava dos filhos, formando os núcleos humanos. Geralmente, o homem precisa de explicação de tudo, ela convive muito bem com a dúvida. São as primeiras a reconhecer as diferenças de mundo e enfrentar, às vezes, por ele também.
Alguns a veem somente como fêmea, outros somente como mulher sagrada num pedestal, no altar ou na cozinha de casa. O cuidar-se, arrumar-se é próprio dela, vestir-se bem a si, ao espelho e ao mundo. A mulher não se apresentaria ao mundo sem estar bem e se sentir como tal, ainda que o homem continue no seu sono de adão… e, como se ao acordar estivesse lá um presente de Deus! Presente não, presença divina.
A mulher devia ter mais espaço na Igreja, principalmente na católica. A tradição romana influenciou o modelo homem-cabeça do núcleo familiar nas famílias cristãs. Em plano subjacente na Igreja também. Maria, o feminino sagrado e mãe de Jesus, o carregou no ventre por nove meses – um verdadeiro sacrário, porque a mulher não pode celebrar e consagrar a vida? Presidir a missa e dizer as palavras “este é meu corpo, este é meu sangue”? Alguns dizem que é porque Jesus era homem, ora, não está se tomando por alimento o corpo físico, mas o sacramental consagrado. Não somos antropófagos.
O tema é extenso e cabem muitas outras reflexões, mas fico por aqui, nesta quarta-feira.
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Camilo Irineu Quartarollo, escrevente judiciário, escritor independente, autor do livro A ressurreição de Abayomi, dentre outros