Fachin tomou cinza

José Maria Teixeira

 

Quaresma é um tempo no calendário católico que precede a páscoa. São quarenta dias que começa logo depois do carnaval, na já conhecida quarta feira de cinzas. Nesse dia, o cristão católico vai à igreja e recebe a cinza que é colocada na cabeça com as palavras: “memento homo quia pulvis est et in pulvere revertere”, isto é, lembra-te, homem, que  és pó e em pó te hás de tornar. Nesse período, a pessoa se recolhe, reduz as suas atividades ao essencial, adota uma alimentação frugal.  A quaresma é, então, um tempo de penitência, um tempo de conversão.

É um isolamento assumido. Para, concentra-se, faz sua autoanalise partindo do que se é como ser humano sujeito de direitos e deveres dotado de inteligência e vontade livre. Portanto, capaz de erros e acertos, mas, cônscio de sua dignidade humana, reconhece e assume suas falhas retornando à vida com uma nova perspectiva. É um novo homem. É a Páscoa para o cristão. Para esse homem que recebe cinza, como se acredita ter recebido o ministro Edson Fachin, não há espaço para a mentira, para a falsidade, para o fingimento, para o desrespeito à pessoa humana.

Lavajatista ferenho, Fachin não resistiu à força da reflexão quaresmal celada pela lembrança do que se é como ser humano e mudou o teor de seu relatório sobre o ex-presidente Lula, anulando todos os processos contra o mesmo.

Porém, se essa é a dinâmica quaresmal de se rever e se reassumir na senda da vida, a quaresma se revela então como uma exigência do ser humano em sociedade, ultrapassando o campo de qualquer grupo religioso e independente de calendário.  Seja ele quem for, esteja onde estiver.  Essa meditação mais profunda a que o ser humano se propõe espontaneamente revela-lhe que ele não é pura exterioridade, e mais, confirma-o como um ser dotado de uma interioridade diretiva ordenadora de seu destino.

A pessoa adquire valor em si mesma, isto é, tem certeza dessa efetiva presença de si para si mesma.  É o que quer dizer a palavra e o conceito consciência.

Homem de carne e osso que caminha com seu igual no mundo.  A este homem dotado de inteligência, liberdade e vontade livre, importa, sim, a retidão de seus atos na relação com seus iguais em busca de sua realização. Por certo, alguns ministros passaram por reflexão como essa.

Vejamos a ministra Rosa Weber: não condenou mais por convicção sem provas; Carmen Lúcia, que mandou o delegado de Curitiba não cumprir o mandato de soltura de Lula, votou, assim como Gilmar Mendes para que ele, Lula tenha acesso a todo material acusatório e que, sem dúvida, sustenta e prova a suspeição do então juiz Sérgio Moro.

É certo também que alguns outros ministros não fizeram tal reflexão. Vejamos: Luiz Fux, Luiz Roberto Barroso e Luis Roberto Barroso passaram pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como presidentes e desconheceram a eleição de uma chapa presidencial eleita com a maior falcatrua eleitoral que se tem notícia.

Não há notícia de nenhuma medida saneadora. De outra parte, o então presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, ante meia centena de pedidos de socorro, impeachment do presidente Bolsonaro,  sequer teve a coragem de colocar um só pedido à apreciação.

Quaresma: “eis o tempo de salvação. Ao Pai, voltemos, juntos andemos”. Eis o tempo de conversão.

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José Maria Teixeira, professor

 

 

 

 

 

 

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