Com ¼ da população do país, o estado de São Paulo detém a liderança no ranking brasileiro de mortes por doenças cardiovasculares. Das 364.132 mortes registradas por DCVs, em 2019, 89.438 ocorreram em terras paulistas: média de um a cada quatro óbitos.
Mas, diferentemente do que ocorre no restante do Brasil, em São Paulo o principal vilão é o infarto, enquanto os brasileiros de outros estados padecem mais de acidente vascular cerebral (AVC). Os dados foram levantados pela SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), com base em informações públicas do Sistema Único de Saúde, que estão sendo divulgados por conta do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8 de março.
Segundo o presidente da SOCESP, João Fernando Monteiro Ferreira, o protagonismo do infarto sobre o AVC entre os paulistas pode ser justificado antropologicamente. “Em países desenvolvidos, o infarto é a primeira justificativa de morte e o AVC ocupa o terceiro lugar”, diz. “O fato nos faz supor que os moradores do estado têm preocupações, cuidados e comportamento similares aos dos europeus e vivem em um ritmo mais acelerado, comparativamente aos habitantes das outras unidades da federação”.
A pesquisa da SOCESP ainda revela uma equiparação entre sexos: “há cerca de 60 anos, a proporção de mortes por DCVs era de nove homens para uma mulher. Atualmente, porém, o cenário está praticamente equilibrado, principalmente quando a causa mortis é o AVC: foram 51.452 óbitos de homens e 49.616 de mulheres, em todo o país”, relata o presidente.
Ainda de acordo com a Sociedade de Cardiologia, a proporção de mortes por doenças cardiovasculares em mulheres no país aumentou 37% nos últimos anos. Dados da OMS apontam as DCVs como responsáveis por 1/3 de todas os óbitos femininos no mundo, o equivalente a 8,5 milhões de mortes por ano, mais de 23 mil por dia.
Mulheres e as DCVs – O diretora da SOCESP, Lília Nigro Maia, acredita que não há como desvincular o aumento da incidência de mortes por doenças cardiovasculares no sexo feminino e as multitarefas. “Trabalho formal, incumbências domésticas, cuidados com familiares e até responsabilidades financeiras que, há 60 anos, eram socialmente aceitas como atribuições masculinas fazem parte do escopo das mulheres hoje em dia”, ressalta.
Outra preocupação é a sintomatologia das doenças cardíacas femininas. “Homens costumam referir forte dor no peito, que irradia para os braços. Já as mulheres sentem náusea, fraqueza, dores gástricas, sudorese e falta de ar”, exemplifica. “Na correria do dia a dia essas manifestações podem passar despercebidas ou atribuídas a diagnósticos menos graves”, explica a cardiologista.
A redução da chance de um evento cardiovascular futuro passa pelos meios dos controles efetivos de fatores de risco cardiovascular e pela mudança dos hábitos de vida. “Sempre é válido lembrar: pandemia não é desculpa para comer com pouca qualidade nutricional, abusando de alimentos gordurosos e calóricos ou para deixar lado as atividades físicas. Além disso, encontrar maneiras de espairecer e aliviar a tensão cotidiana podem ser importantes remédios no combate às doenças do coração”, completa Lília Nigro Maia.