O dilema da volta às aulas

Barjas Negri

O Brasil levou muito tempo para reduzir as taxas de abandono e de evasão da educação básica e, mesmo assim, ela é considerada elevada no Ensino Médio. Porém, em 2020, em plena pandemia, essa taxa aumentou muito, em especial entre os alunos das famílias de renda mais baixa. O mesmo ocorreu entre os alunos do ensino superior. De acordo com o Data Folha, 4 milhões de alunos entre 6 e 34 anos abandonaram os estudos durante a pandemia.
Esse número é elevado e pode comprometer o futuro da educação dessas crianças e jovens se não retornarem às escolas e recuperarem o atraso educacional. Ao que parece, a pandemia ainda vai perdurar e o mesmo cenário poderá se repetir neste ano. Caberá às autoridades educacionais de estados e municípios procurar ou encontrar uma solução de volta às aulas, protegendo tanto alunos (as), professores (as) e outros profissionais da educação.
Não é uma tarefa fácil, porque os pais e os profissionais da educação têm suas razões e precisam estar protegidos em eventual retorno às aulas presenciais, ainda que parciais. Por isso, cautela, diálogo e participação de todos na eventual solução é importante.
Sempre debate dessa natureza envolveu mais os sindicatos de professores e autoridades educacionais do Estado, municipal e da rede particular. Agora, ouvir os pais e os profissionais da saúde ganha um papel mais relevante, tão necessário para uma futura decisão que se erre menos e se acerte mais.
Seja qual for a decisão, ela deve passar necessariamente pela meta de vacinação gradativa dos profissionais da educação e de apoio às escolas, a exemplo do que acontece com os profissionais da saúde, que estão na linha de frente do combate ao coronavírus. Essa tarefa também não é fácil porque, neste momento, a quantidade de vacinas não é suficiente.
Provavelmente, não haverá uma solução única. Por isso, é preciso muito diálogo. Na rede estadual o diálogo entre os dirigentes e a Apeoesp, com o envolvimento das autoridades sanitárias estadual, pode encontrar um bom caminho e levá-lo a cada uma das escolas, que devem dialogar com pais e professores.
Em São Paulo temos 645 municípios, cujos procedimentos não devem ser diferentes. Vai envolver os dirigentes, sindicatos, autoridades sanitárias e as comunidades escolares. Nestes casos poderão ocorrer diversas propostas e soluções para o avanço da educação.
Nas redes particulares, os diálogos entre mantenedores e pais são mais frequentes, basta agora envolver também as autoridades sanitárias em conjunto com a comunidade escolar. Certamente serão encontradas muitas soluções diferentes que podem ser aperfeiçoadas e adaptadas por outras escolas e municípios.
Todos temos que ter capacidade de tomar decisões mais adequadas, com erros e acertos, preparando melhor o futuro dos nossos alunos num período de continuidade da pandemia, que vai passar necessariamente pela vacinação de professores (as) e trabalhadores (as) da educação. Apenas o diálogo, bom senso, participação da comunidade, tolerância, dedicação e o cotidiano de uma escola podem ajudar.
Em algum momento, as escolas terão de ser abertas. Muitos alunos (as)  dependerão do transporte escolar de ônibus e vans para ir e vir às escolas. Que, com muito diálogo, todos encontremos a melhor solução, pensando sempre no futuro educacional das nossas crianças.

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Barjas Negri, ex-prefeito de Piracicaba, subsecretário de Assuntos Metropolitados do Estado de São Paulo 

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