A guerra das narrativas

Tarciso de Assis Jacintho

 

Ao postar uma notícia em sua rede social você precisa, nos dias de hoje levar em consideração seu lugar de fala sob pena de ser vítima da cultura do cancelamento, ou seja, você precisa de um disclaimer ativado 24 horas em seu cérebro. Como éramos felizes quando as redes eram sociais e postar fotos e vídeos poderia ser apenas titulado como fútil.

Tudo bem, os tempos são outros e os fatos recentes de nossa história corroboraram de fato, para o estado atual das coisas. Isso tem feito muito mal ao mundo e ao nosso país. O “Nós e Eles”; a polarização, interessa de fato a quem? Creio que para responder a esta pergunta devamos recorrer a história, mesmo considerando a premissa algo pragmática citada acima.

A História nos ensina. E em nosso País, sobretudo em nossa história recente é notadamente verificado que o combate a corrupção sempre foi a bandeira daqueles que almejam chegar ao poder. Do “mar de lama” de Getúlio à cassação de Juscelino. Do golpe de 64 a caça aos Anões e aos Marajás e mais recentemente a Lava Jato que nocauteou o partido que chegou ao poder sob bandeira da ética contra a corrupção. A esse ingrediente essencial ao debate político nós inventamos de trazer de volta uma pauta de costumes, talvez em resposta aos excessos de campos progressistas então no poder. O fato que essa pauta coaduna com a polarização que vivemos hoje. Maus uma vez; a quem isso interessa?

Se você não apoia o atual governo talvez você não seja necessariamente comunista e coma criancinhas. No extremo oposto, se você apoia, talvez não seja fascista, tenha atravessado o Rubicão e tenha dificuldade de conviver com a diversidade e o contraditório. Não podemos, no entanto, esquecer que há sim fascistas e comunistas em ambos os espectros. Percebe o reducionismo no debate?

É um fato histórico recente, um dado da realidade que os governos Sociais Democratas contribuíram para a estabilidade econômica e as conquistas sociais verificadas em nossas sociedade nos últimos trinta anos. Do Plano Real ao Bolsa Família conquistas foram experimentadas por uma parte desta sociedade que aprovou esse modelo por seis eleições.  Não se pode apagar esse legado, porém as consequências das políticas monetárias e fiscais adotadas para financiar essas conquistas levaram a sociedade a desaprovar esse modelo. Como o poder não deixa vazio, mais uma vez o combate a corrupção foi utilizado como bandeira da necessidade de mudanças.

Votei no governo atual por uma aposta de que seria um primeiro passo para que, através do “Menos Brasília e mais Brasil”, a próxima geração tivesse como lição de casa eleger governantes que propusessem um debate não de uma agenda de costumes, mas uma pauta onde saúde, educação e segurança pública, destacando a educação centralmente, fossem de fato políticas de estado e o resto fosse regulado por agências governamentais, protegidas do víes ideológico pela alternância do poder fortalecida pelo fim da reeleição.

Essas em tese eram as promessas que eu arrisquei em acreditar a despeito do oportunismo anti-PT do qual o atual presidente se beneficiou. Mas devemos sempre tomar cuidado com o que queremos. Assim que assumiu o governo a cadeira queimou; o filho denunciado antes da posse o forçou a mudar os rumos e o discurso perdeu legitimidade e, por conta disso, ele não consegue governar.

O cientista político alemão Juan Luiz, criado em meio à guerra civil na Espanha, publicou em 1978 o livro The Breakdown of Democratic Regimes e nele elenca indicadores que evidenciam o comportamento autoritário em líderes políticos. São eles: 1. Rejeição das regras democráticas. 2. Negação da legitimidade dos oponentes políticos. 3 Tolerância ou encorajamento da violência. 4 Propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia.  Qual o legado este governo nos deixará?

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Tarciso de Assis Jacintho, administrador de empresas, coordenador administrativo e financeiro da  APFP (Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba)

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