Álvaro Vargas
A “Terapia de Vidas Passadas” (TVP) não é considerada uma ciência nem é aceita pelos conselhos de psicologia, de medicina, ou de enfermagem. Na parapsicologia é conhecida como retrocognição. Funciona como uma psicoterapia, com várias sessões que podem levar meses de duração. Alguns terapeutas utilizam a hipnose, mas atualmente predominam os métodos não-hipnóticos. O Espiritismo não recomenda e nem condena aqueles que buscam essa terapia, entendendo que essa é uma decisão de foro íntimo de cada indivíduo. Entretanto, para todos aqueles que pensam em utilizar da TVP, é prudente que antes de tomar essa decisão, procurem conhecer melhor os fundamentos do Espiritismo, e busquem uma casa espírita para um tratamento de fluidoterapia e desobsessão espiritual, se necessário.
Para o nosso benefício, mesmo na erraticidade, a maioria dos espíritos não tem acesso imediato às existências passadas. Essas lembranças seriam prejudiciais, pois não alcançamos ainda o nível evolutivo (intelectual e moral), de modo a analisar as nossas experiências com o devido proveito. Na obra “Nosso Lar” (Chico Xavier), o espírito Laura, que habitava essa cidade no mundo espiritual, mesmo demonstrando um avançado grau de maturidade psicológica, quando perguntada por André Luiz sobre a TVP, respondeu que “ela e o marido tinham lembranças vagas do passado que causavam perturbação. Com o objetivo de compreenderem as razões para esse mal-estar, tiveram primeiro acesso às anotações de suas experiências passadas, abrangendo três séculos. Após longo tempo de meditação, foram submetidos a operações psíquicas para recordar esse período, o que a entristeceu profundamente”.
Allan Kardec (Evangelho Segundo o Espiritismo, 5:11), cita que “É em vão que se objeta o esquecimento como um obstáculo no sentido que se possa aproveitar as experiências das existências anteriores. Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso devia ser útil. Com efeito, essa lembrança teria graves inconvenientes; poderia, em certos casos, nos humilhar estranhamente, ou exaltar o nosso orgulho, entravando o nosso livre arbítrio; em todos os casos, traria uma perturbação inevitável nas relações sociais”. Habitamos um mundo de provas e expiações, no qual predomina a maldade. Embora as lembranças passadas, quando ocorrem de forma espontânea, e a TVP em alguns casos específicos, possam ser úteis para o desenvolvimento do autoconhecimento, para a maioria da humanidade isso seria negativo. “O homem não pode, e nem deve saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como aquele que passa, sem transição, da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado, ele é mais senhor de si.” (Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 392).
Importante compreender que as experiências que vivenciamos, fazem parte de nosso programa reencarnatório. A nossa existência na Terra, se assemelha à TVP, pois geralmente reencontramos com indivíduos e situações relacionadas com as experiências pregressas. De acordo com Allan Kardec “no estado errante, antes da nova existência corpórea, o espírito escolhe o gênero das provas que deseja sofrer” (O Livro dos Espíritos, questão 258). O espírito Emmanuel, cita que “habitualmente somos nós mesmos quem planificamos a formação da família, antes do renascimento terrestre, com o amparo e a supervisão dos instrutores beneméritos, chamando para junto de nós, os antigos companheiros de aventuras infelizes, na esperança de resgate, burilamento e melhoria” (Vida e Sexo, cap. 17, Chico Xavier). De fato, memórias das nossas existências pregressas são desnecessárias. Basta observarmos cuidadosamente as nossas tendências, os nossos gostos e preferências atuais, que teremos uma boa noção sobre as virtudes e imperfeições de que somos portadores. O Espiritismo, compreendido e vivenciado, continua sendo a melhor terapia para superarmos todos os dramas existenciais e sermos felizes.
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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo, Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita