O óbvio sobre pandemia e vacina

Adelino Francisco de Oliveira

 

A aprovação da vacina pela Anvisa abre um novo capítulo na luta nacional contra a pandemia do novo coronavírus. Torna-se urgente agora traçar um plano de imunização, promovendo uma ampla campanha, que seja capaz de alcançar todos os rincões do país, sem deixar nenhuma região, nem ninguém de fora. A vacinação deve ser universal, gratuita e implementada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Aliás, o plano de vacinação nacional, envolvendo estados e municípios, já deveria estar pronto para ser executado. No entanto, com a inépcia do governo federal, torna-se fundamental o protagonismo dos governadores e também dos prefeitos. O importante é garantir que a vacina chegue o quanto antes, de maneira a imunizar a população, preservando a saúde e no limite a vida das pessoas.

A prefeitura deve apresentar seu plano para promover a imunização em âmbito local. É fundamental envolver a cidade, por meio de informações seguras, diretas e criteriosas, promovendo um debate que reforce a importância da vacinação. A desinformação e visões não amparadas em verdades científicas já causaram muito mal para o país. É preciso agora superar o obscurantismo e o negacionismo, avançando para uma compreensão crítica, razoável e solidária sobre os riscos e a gravidade letal da pandemia. A sociedade deve entender que a vacina ocupa um lugar central na guerra contra o novo coronavírus.

As vezes a realidade se apresenta de maneira tão extremamente dura e insuportável que é muito mais fácil se apegar a explicações simplistas e fantasiosas. Esse pode ser o caso talvez dessa gravíssima pandemia, que ceifou milhões de vidas mundo a fora. A ideia de que o Brasil teria um remédio extraordinário e miraculoso – a hidroxicloroquina –, que seria uma solução barata, simples e preventiva à Covid-19 é uma dessas ilusões, construída ideologicamente para manipular a realidade, tornando-a mais palatável.

O novo coronavírus pode ser letal para muitas pessoas. Esse é um fato irrefutável. É preciso evitar o contágio, por meio do isolamento e do distanciamento social, da lavagem constante das mãos com sabão e álcool gel, da utilização de máscaras e agora, finalmente, por meio da imunização pela vacina. Não há outra saída. Não se conhece, infelizmente, nenhum remédio preventivo com eficácia cientificamente comprovada. Por mais duro e difícil que seja, essa é a realidade.

Não adiante criar um universo paralelo, no qual existiria um remédio acessível que preveniria contra o vírus letal. Difundir tal ideia é agir de maneira irresponsável e desrespeitosa para com milhões de vidas que morreram vitimadas pela pandemia. Quando o gestor público passa a alimentar a falsa ilusão que há tratamento preventivo, contrariando os protocolos e orientações da OMS, faz um grande desserviço para o real enfrentamento da pandemia.

Com a vacina, a sociedade poderá virar a página desta triste pandemia, sem esque8cer, no entanto, suas duras lições. Em situação de calamidade pública, o mercado não traz nenhuma resposta. Somente o poder público tem condições de proteger, com políticas públicas, a população. É fundamental a existência de um amplo e bem estruturado sistema público de saúde, que garanta atendimento universal. É urgente o desenvolvimento de uma nova sociabilidade, dinamizadora de estruturas sociais justas – alicerçadas nos princípios dos direitos humanos e da equidade – e de posturas éticas tomadas pela empatia e pela solidariedade.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; [email protected]

 

 

 

 

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