Pandemia da Omissão

Nilson da Silva Júnior

 

A palavra omissão significa “ausência de atenção e de cuidado; negligência. Do latim omissio. Onis”. Na prática, a pessoa omissa é aquela que se desvia de alguma ação, palavra ou posicionamento quando deveria dizer, agir ou definir-se diante de algum evento. Quem se omite, se nega, desvia do caminho, muda de calçada, desvia o olhar, encolhe a mão ou finge não ouvir. Existem várias citações de omissão na bíblia. Uma das mais clássicas é o caso de dois religiosos que cortaram volta de um homem machucado, quase morto, negando socorro, numa estrada que ligava Jerusalém a Jericó, citados pelo próprio Cristo na Parábola do bom samaritano. Outra, é a de Pedro, logo após a prisão de Cristo, sendo reconhecido como discípulo, se omitiu, se esquivou, negando ser um de seus seguidores. Mas há também a menção mais clara, mais evidente, de Pilatos ao dar sentido prático, visível à atitude de se omitir, lavando publicamente as mãos, sinalizando seu não posicionamento em ambos os lados, nem sim, nem não, talvez o pior e mais nojento de todos eles.

Os resultados da omissão são lamentáveis. Por omissão, pessoas morrem, passam fome, são subjugadas, exploradas. Por omissão de quem pode e não faz, não fala ou não se posiciona, muitos se enganam, ficam desorientados e se perdem, se lançam nos lamaçais do engodo e da ignorância. A omissão é ainda mais destrutiva que o erro. Porque erro se corrige, mas a omissão é incorrigível porque ela não é nada em si mesma, antes é a falta daquilo que é mais louvável em uma pessoa, o caráter (os sinais que caracterizam, identificam). Uma pessoa omissa passa despercebida, sem cor, sem tom, sem voz e, portanto, sem lembrança, história ou honra. Ser omisso é não ser nada por opção.

Mas, particularmente, considero um o tipo de omissão mais abominável, asqueroso e detestável, a que acontece por interesse, por levar vantagem, para a obtenção de lucro, porque esta vem imbuída de egoísmo, egocentrismo e ganancia e é capaz de passar por cima de qualquer coisa, da vida, da dor, da opressão, da ética ou de qualquer senso de humanidade que possa existir. Considero as pessoas que assim agem, desumanas na maior extensão da palavra, pois se transformam em abutres, calados, imóveis, frios e irredutíveis, diante do sangue e da dor, aguardando o último traço de vida se esvair para se fartarem dos despojos, mesmo que ainda envoltos em sangue, angústia e aflição.

Me indigna pessoas que deveriam fazer alguma coisa diante da indiferença e do descaso permanecerem assentadas em seus próprios empenhos e pretensões. Pretensos cultos, pretensos homens e mulheres de bem, pretensos religiosos. Uma gente requintada de aparência, mas fétida de sentimentos, vestidas de largos sorrisos, mas envolvidas de um espírito mal e insensível, que se cala, que corta volta, que se desvia do próximo para seguir acompanhada somente da ambição e do egoísmo. Uma gente que fala bem e age tão mal. A esses, independentemente de religião, posição social, sexo, etnia ou pensamento político, O Soberano está a dizer em alto e bom som… “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Apocalipse 3:15,16).

­­­­­_____

Nilson da Silva Júnior, pastor, professor; [email protected]

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima