Epifania do Senhor

Antonio  Lara

 

Num mosteiro, um jovem monge passou meses, junto com outros, para tecer um grande tapete. Estava enjoado daquele trabalho cansativo e repetitivo. Um dia levantou de sua cadeira e saiu gritando com raiva: – Chega. Todo dia a mesma coisa. Não consigo mais continuar. Estava procurando um fio de ouro e me mandam cortá-lo, depois juntá-lo de novo, depois cortá-lo mais uma vez. Sempre assim, – Meu filho – lhe disse o monge mais velho, correndo atrás dele – pare, por favor. Você não viu o tapete do lado certo. Você estava trabalhando no avesso e somente num ponto. – Pegou o jovem pelo braço e o reconduziu na sala onde todos os outros tinham parado de trabalhar e estavam estendendo o tapete. – Veja e admite – disse o velho monge ao jovem. O noviço ficou encantado. Descobriu que estava trabalhando nos detalhes de um maravilhoso desenho: o Mago que se ajoelhavam na frente do Menino Jesus cheios de alegria, o adoravam e lhe apresentavam os seus dons. O fio de outro que ele estava cortando e juntando era a auréola dourada do Menino Deus. O jovem entendeu o valor do seu humilde trabalho. Estava colaborando com uma obra grande e de extrema beleza. Ficou feliz.

No dia da Epifania do Senhor, celebrado domingo passado, podemos lembrar quantas vezes já vimos pintada, desenhada ou mesmo representada à cena dos Magos, ajoelhados em adoração, na frente do Menino Jesus e de Maria, sua mãe. Sempre tem muitas estrelas, mas uma brilha mais do que as outras. É aquela que guiou os Magos. É bom. Mais difícil, é entender o sentido desta festa maravilhosa e ao mesmo tempo desafiadora. O Menino que nasceu no Natal é o salvador de todos e não somente de alguns. Esta é a boa noticia. A dificuldade é conduzir as pessoas ao encontro com o Salvador para que possam ao mesmo tempo em que o acolhem deixar-se acolher e amar por Ele.

Vivemos numa época em que tanto valores, inclusive os religiosos, são discutidos superficialmente, reduzindo-os a historias do passado ou literalmente silenciados. Cada um acredite no que quiser, decida como achar melhor. A religião parece ser questão de gosto; é inútil discutir, confrontar, aprofundar. Com tantas coisas mais urgentes para fazer – como consumir e se divertir – parece tempo perdido. Como acordar estes nossos irmãos e irmãs do desinteresse, da indiferença, do relativismo?

Não tenho receitas mágicas. Posso somente repetir a mensagem da festa da Epifania. O que Jesus veio nos revelar não somente para alguns ou para quem quiser. Diz a respeito da vida de todos porque quer nos ajudar a dar um sentido á própria vida. Quando tiramos Deus da nossa existência e o reduzimos aos nossos gostos, de fato o substituímos com outras coisas ou com nós mesmos. Nós nos tornamos o critério de tudo. Do bem e do mal, do que está certo e errado, do que é justo e do que é injusto. O que nos parece liberdade de fato se torna uma prisão: não enxergamos mais nada além do que “nós” – o “eu” de cada um, afinal – pensamos, achamos, decidimos.

Desta maneira não existem mais valores que sejam tais para todos e que, portanto, possam orientar a vida de todos e a convivência entre todos. A verdadeira liberdade exige a busca fadigosa da verdade, precisa ser construída sobre algo de sólido que nos faça crescer nos relacionamentos também com os outros porque todo ser humano cresce e se realiza somente no encontro com os outros e com o “Outro” que é Deus.

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Antonio Lara, articulista da GP; [email protected]         

 

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