Venho confrontando-me nessa pandemia feito um índio que se vê pela primeira vez no espelho d’água de um rio. E sei que não estou sozinho nessa selva aterrorizante, na Terra das desigualdades. No ritmo do #fiqueemcasa, às vezes brincando na gangorra digital no quintal da minha consciência, ocorreu-me abrir um armazém de letras, que resolvi chamar de: pessoar.com.br – porque ler e escrever cura a gente. O pessoar.com.br , portanto, é o meu Monte Kilimanjaro; a Praça de São Pedro no Vaticano; a Avenida Paulista; a Trafalgar Square; o Hyde Park; o Cavern Club; o Porto de Santos; o Vão Livre do Masp; o Cristo Redentor; a Estátua da Liberdade; a Piazza Navona; a Lua; as Estrelas; Bari; a Capadócia; as Pirâmides do Egito; Capivari; Mombuca; a Rua do Porto; o Parque Trianon; eu comigo e a Esperança com ela juntos em Cascais ou Lisboa; o meu existir atônito pelas ruas, vielas, morros e favelas; um viver heteronímico; uma rede na varanda; cadeiras na calçada; os meus sonhos e pesadelos; palcos, coxias, ribaltas e plateias; livros e discos; um trem nos trilhos, às vezes descarrilado; o motorneiro e o seu bonde; imaginários sem fim; o olhar duma águia; um avestruz sentinela; uma panela de ferro no fogão à lenha; uma rádio no ar; orações no altar; Jazz, Rock, Pop, MPB, R&B, Soul; a minha infância de bolinha de gude na Bom Jesus e Ipiranga; reverência aos meus ancestrais italianos e a todas as criaturas visíveis e invisíveis; a honra de me expressar em português. Eis o meu ofício. Conte com o pessoar para contar o que tem a contar. (Paulo de Tarso Porrelli)
O pessoar está na rede
7 de janeiro de 2021