Poderemos algum dia ver Deus?

Alvaro Vargas

 

No Sermão da Montanha, Jesus estabeleceu um novo paradigma: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mateus, 5:8); entretanto, em outro momento, igualmente significativo, mencionou que “ninguém jamais viu a Deus” (João, 4:12). A controvérsia é aparente, pois o Mestre mencionou um fatalismo para todos os espíritos; serem um dia “puros”. Entretanto, a nossa humanidade encontra-se em um estágio primário na escala evolutiva, razão pela qual nenhum de nós somos capazes de ver Deus, à exceção de Jesus. De acordo com Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão no. 10), sobre a compreensão do homem a respeito do mistério da Divindade, “quando o espírito não estiver mais obscurecido pela matéria e pela sua perfeição, tiver se aproximado dela, então a verá e compreenderá”. Todos os espíritos são criados simples e ignorantes, e nós ainda nos encontramos muito ligados aos instintos inferiores. Ao mencionar que “se alguém não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus” (João, 3:3), Jesus esclareceu que através das reencarnações, evoluiremos no aspecto moral e espiritual, até a perfeição.

Embora não possamos ver Deus, independentemente de estarmos encarnados ou não, é possível “enxergá-lo” através de suas obras. Todo efeito inteligente é produzido por uma causa igualmente inteligente; a natureza, a harmonia existente entre as constelações que povoam o universo etc. É possível também “senti-lo”, com o nosso coração, se superarmos as nossas limitações morais e fortalecermos a nossa fé no Criador. No antigo Egito, no processo de mumificação, o único órgão humano preservado era o coração, considerado a sede da alma; segundo a crença da época, durante o julgamento pelos deuses, o coração deveria estar leve como uma pluma. Sabemos que o coração e o cérebro são órgãos físicos que expressam os pensamentos e sentimentos da mente do espírito reencarnado; de acordo com Allan Kardec (O Livro dos Espíritos, questão no. 146) “a alma se situa mais particularmente no cérebro, entre os grandes gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando todas as suas ações à humanidade”.

A ciência tem demonstrado que a maior parte das células do coração são os mesmos neurônios existentes em nosso cérebro; “decodifica” as emoções do espírito, transmitindo para os órgãos responsáveis, os “sinais” que dão origem aos hormônios dos sentimentos. Interessante que os antigos profetas tinham conhecimento disso: “O senhor não vê como vê o homem; pois o homem olha para o que está adiante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (Samuel, 16:7); “que as palavras dos meus lábios, e o meditar do meu coração, sejam agradáveis na Tua presença” (Salmos, 19:14). E Jesus nos diz: “porque do coração procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias (Mateus, 15:19). Jesus, assim como os antigos profetas, compreenderam a importância do coração, pela elevada maturidade do senso moral que possuíam. Por intuição própria, sabiam que o órgão de expressão dos sentimentos humanos é o coração.

Na obra “No Mundo Maior” (André Luiz e Chico Xavier), o espírito Euzébio nos diz que: “Evoluímos muito em ciência e tecnologia, mas estamos depauperados nas expressões sublimadas do coração, cujo sentimento por excelência é o amor; continuamos andando em círculos, presos as sensações inferiores. Embora retornemos constantemente ao Planeta, em reencarnações sucessivas, há milênios, nossos compromissos com a religiosidade têm sido praticamente nulos”. De fato, o cenário mundial, com guerras constantes e corrida armamentista, é um reflexo do desequilíbrio entre o coração e o intelecto. O nosso trabalho de transformação moral, tendo como meta a “pureza de coração”, é obra que requer milhões de reencarnações. Mas ninguém atinge o cume da montanha sem dar os primeiros passos!

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Alvaro Vargas, engenheiro agrônomo,Ph.D., presidente da USE-Piracicaba, palestrante e radialista espírita

 

 

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