Plinio Montagner
A amizade é uma afeição que se inicia pela afinidade. Não se escolhe. É um sentimento espontâneo, que nasce do nada, não há pagamentos nem trocas, não tem hierarquia, idade, sexo, não envolve dinheiro nem interesse em coisa alguma.
Uma exigência da amizade é a sinceridade. Quando não há, é porque há outro motivo na relação.
No amor é diferente. É uma afeição maravilhosa, profunda, perigosa. Morre-se e mata-se por amor. A diferença relevante é que no amor existe um aprisionamento consentido, é escolhido, e na amizade há liberdade e indiferença em relação ao contato e a presença. Aprisionamento zero.
Amor é um bem, uma joia, um lar, uma casa, e é coisa que não pode ser emprestada, enquanto na amizade a presença é liberada e os amigos podem cada um seguir seu caminho. Não existem questionamentos do tipo aonde você vai, aonde foi, quando vai voltar etc.
O amor machuca, mas dá vida à vida. Os cuidados são maiores para não sofrer, e exige zelo e delicadeza em todos os momentos da relação.
De qualquer modo esses dois sentimentos afetivos são os que mais despendem energias e alegrias ao o ser humano. Quem não tem amigos, ou nenhum, é uma pessoa debilitada, triste.
As amizades antigas desempenham um papel importantíssimo na vida de qualquer pessoa. São pedras raras a preservar. Por esse motivo existem reuniões de confraternizações, principalmente dos aniversários de formatura. Nesses encontros não há protocolos nem atas. É uma festa que faz a gente lembrar os deslumbramentos e das emoções da juventude.
Nos bate-papos não se fala no amanhã nem no futuro próximo ou distante. O futuro passa a ser o tempo presente.
Amigos o tempo leva; outros se perdem sem rastros. Mas os descobertos e aproximados o coração se farta de aleluias. Com certeza não vamos mais tomar um chope com eles ou um cafezinho na cantina da faculdade com a mesma frequência. Mas basta só um dia, ou dois, para os privilegiados pressentirem no olhar e no bate-papo os sonhos do passado deslocados do inconsciente.
Isso, inexplicavelmente, é muito confortável.
Recentemente a atriz Nicette Bruno fez uma homenagem à vida com essas palavras: “Tudo muda com o tempo. A família muda e se desfaz; amores ardentes se extinguem; muitas urgências se acalmam; passos ágeis se ralentam”.
Nosso passado era lento, mas havia ternura. Velhos amigos são assim, não envelhecem, continuam com o mesmo sorriso, o olhar, a voz, o humor, até o jeito de andar.
Velhos amigos na idade da reflexão têm algumas vantagens. Não fazem planos, não compram imóveis, não se preocupam com conquistas para simplificar. Também não dão festas. Vão a festas. Têm fotos e não têm agendas. O que é mais importante: têm a magia para reviver as ilusões adormecidas.
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Plínio Montagner, professor aposentado.