Plinio Montagner
Jamais me atrevo a fazer um discurso. Bloqueio total. Nem psiquiatra resolve. A oratória é um dom, uma arte que deveria ser incluída no currículo escolar. Falar fluentemente é um equipamento que municia e evidencia as pessoas em seus contatos sociais, nos negócios e em sua profissão.
Um amigo de infância, que deve ter percebido minha dificuldade na oratória, enviou-me alguns parágrafos de um discurso de Bill Gates, dono da maior fortuna pessoal e da mais rica empresa do mundo, numa preleção a alunos de onze a quinze anos em uma escola dos Estados Unidos.
Em seu discurso ele exaltava o valor do estudo e do trabalho honesto na conquista da independência financeira do homem, e repudiava os atuais sistemas de ensino e o desrespeito que os jovens têm pela geração de seus pais.
Gates afirmava que cada vez mais é valorizada a mediocridade e cada vez menos são premiadas a dedicação e a inteligência. Em algumas escolas os alunos não repetem o ano e têm quantas chances precisar até acertar e ser promovido.
Isto não é verdadeiro na vida real, diz ele, se você errar, está despedido. Rua!
Em nosso país isto também acontece na maioria das escolas públicas e em todos os graus. Os estudantes são nivelados por baixo. Se não bastasse, os professores, subjugados por sistemas de ensino ordenados por ideologias antidemocráticas, não alertam os alunos da ineficácia de um diploma e aprendizagem é zero.
É evidente que o interesse primordial da classe política é a cegueira intelectual do homem. Esse fato fora contestado há mais de vinte séculos nos textos metafóricos de Platão (428 – 347 a.C.), O Mito da Caverna, com a intenção de mostrar ao mundo o aprisionamento de pessoas que passam a vida toda na obscuridade mental sem imaginar que a felicidade e a liberdade estão do lado de fora dos domínios de seus opressores.
O prejuízo não demora, e se constata no momento da entrevista de emprego, de prestar um concurso, de executar um trabalho ou um simples teste. Os candidatos desprovidos de conhecimento e favorecidos pela camaradagem não terão lugar entre os honrados.
A política educacional dos países democráticos deve enfatizar a criação de gerações com parâmetros reais, em vez da felicidade televisiva que leva as pessoas a falharem em suas vidas. Faltam aos nossos jovens exemplos de ícones representativos da bravura e das vitórias por mérito, em vez dos simulacros que não representam o lícito e o verdadeiro.
A autoestima está à beira da falência; ser inteligente é tirar vantagens, furar filas, mentir e enganar.
Palavras de Gates:
“Professores duros, enérgicos, exigentes, que os alunos acham cruéis, serão lembrados como cordeiros, se comparados com seu chefe. Todos vocês sonham ganhar salários altíssimos, com direito a carro e despesas pagas por uma empresa. Mas isso só vai acontecer e antes vocês fizerem a sua parte, comprar seu primeiro carro e pagar as contas de seu telefone. Seus pais, que agora são exigentes e vocês os criticam, têm razão, porque foram eles que o levaram à escola, às festinhas, cuidaram de sua saúde e pagaram todas as contas enquanto os ridicularizavam. Assim, antes de ansiar mudar o mundo para melhorar a próxima geração, e de querer consertar os erros da geração de seus pais, cuidem primeiro de limpar seus próprios quartos”.
Antes, não muito tempo, os pais se comunicavam com os filhos pelo olhar, e o filho fechava a boca. Nenhum danadinho se atrevia a servir-se à mesa antes dos mais velhos, a pegar o maior bife, sentar-se-onde desejasse, mas onde os pais ordenavam.
Os tropeços da vida ensinam que optar pelo errado fica mais caro do que a opção pelo certo.
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Plinio Montagner, professor aposentado