A OSP (Orquestra Sinfônica de Piracicaba) receberá o registro de Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Piracicaba. É o que consta no parecer do Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba), proferido no dia 4 de dezembro. O conjunto de música erudita completou 120 anos em março e é considerado o que possui maior tempo em atividade no gênero do País.
A decisão do Codepac seguirá para o Executivo, que emitirá um decreto, a ser publicado no Diário Oficial nos próximos dias. Diferente de um bem imóvel, no bem cultural de natureza imaterial não existe o tombamento, mas sim o registro. Os artigos 215 e 216 da Constituição Federal estabelecem que o Estado (em parceria com a sociedade) deve preservar esses bens culturais, para que sejam transmitidos de geração em geração.
Diretor artístico associado da OSP, André Micheletti lembra que a orquestra também é reconhecida por leis municipal e estadual como entidade de utilidade pública. “Devemos a conquista ao nosso público, às empresas parceiras e ainda ao poder público. Eles são pilares indissociáveis, que garantiram a sustentação da OSP”, diz o violoncelista piracicabano, que é professor de música na USP de Ribeirão Preto e que desde 2015 faz um amplo esforço para garantir a revitalização do conjunto sinfônico, com temporada regular de concertos e a criação de projetos sociais.
Diretor artístico e regente titular da OSP, o também piracicabano Jamil Maluf lembra que entre as principais premissas do conjunto está a democratização da música clássica a todos os públicos, tanto que a OSP realiza 58 eventos durante o ano. “A OSP sempre primou pela qualidade de sua programação artística, apresentada com entrada franca a seu publico, e recebeu 95 mil pessoas desde 2015. É uma das poucas orquestras do interior do país a receber convites externos, como nas quatro edições do Festival Internacional de Campos do Jordão e por três vezes na Sala São Paulo”, diz o maestro.
Para Jamil, o reconhecimento do Codepac reafirma a qualidade do trabalho realizado. “Ao mesmo tempo, reforça a missão da OSP em projetar e levar o nome da cidade de Piracicaba como polo cultural, artístico e de turismo “, completa ele, que divide sua rotina profissional como regente na Orquestra Experimental de Repertório, no Theatro Municipal de São Paulo.
Para a secretária da Ação Cultural e Turismo, Rosângela Camolese, a importância de se ter uma legislação específica para o registro de bens imateriais reside no reconhecimento legal das expressões que fazem parte da vida da sociedade. “Os registros do sotaque e do dialeto caipira, da Festa do Divino e, agora, da OSP, dão mostras da preocupação e do reconhecimento do poder público de nossas manifestações culturais”, avalia.
O REGISTRO
O processo administrativo para que o Codepac estudasse o registro surgiu por solicitação do presidente da Associação da Orquestra Sinfônica de Piracicaba, Reinaldo Gerdes, em 3 de agosto deste ano. O levantamento do material esteve aos cuidados do instrumentista Antonio Carlos Garcia, responsável pelo arquivo artístico da OSP.
O material enviado ao Codepac se baseou no trabalho de pesquisa feito em 2009 pelo maestro Egildo Pereira Rizzi e o engenheiro agrônomo José Carlos de Moura, diretor administrativo da orquestra, uma figura fundamental para a sobrevivência do conjunto nas últimas três décadas. Rizzi se dedicou à regência da OSP por quase 20 anos e morreu em 2012. Além disso, a Associação de Cultura Artística contribuiu com documentos históricos que citam a atuação da orquestra, anexados ao processo.
Fundada pelo maestro Lázaro Lozano (1871-1951), a Orquestra Sinfônica de Piracicaba teve sua estreia em 24 de março de 1900, na antiga Matriz de Santo Antonio. Ela manteve-se, ao longo dos anos, de concertos esporádicos, a partir do empenho de entusiastas da música erudita, muitos ligados à Esalq/USP.
Na sua fase atual, além dos concertos regulares mensais, desenvolve os projetos socioeducativos Música nas Escolas, ABC do Dó, Ré, Mi e Pequena Grande Orquestra, que contemplaram 36.800 crianças da rede municipal de ensino.
A história da OSP é marcada por diversas denominações, entre as quais Orchestra Piracicabana, Orquestra Piracicabana de Amadores, Orquestra de Amadores Benedito Dutra Teixeira e Orchestra do Teatro-Cinema de Piracicaba. Em 1994, é denominada oficialmente de Orquestra Sinfônica de Piracicaba.