Ane Caroline Nabas
Em gestão neste serviço desde 2019 a Associação Presbiteriana, recebendo então a herança de outros formatos de gestão de organizações anteriores e ainda das diversas mudanças, até o reordenamento do próprio serviço de abrigo para moradores de rua e politicamente corrigido para Serviço de Acolhimento para pessoas em situação de Rua.
Logo em seus primeiros dias houve a necessidade de compreender que a prioridade não seria mudar a rotina dos moradores e dar início a atuação técnica, e sim, criar vínculos para que estes sofressem o mínimo possível com as trocas de indivíduos que ali prestavam serviços por um bom tempo, mas que se fazia necessário, haja visto a objetividade do serviço que vem a ser de Acolhimento
transitório e não permanente.
Porém, logo houve os estudos de casos e os trabalhos coletivos no qual proporcionaram uma análise mais refinada dos sujeitos, e fora notado de que o serviço que atua com a pessoa em situação de Acolhimento tem suas peculiaridades e que se faz necessário olhar para cada um de forma individualizada, e a partir daí criar ações coletivas com o ensejo de oferecer uma ambiência acolhedora, porém voltado para uma demanda importante, a saúde mental daqueles moradores.
O NAS, como o chamam, muito embora tenha em seu objetivo o acolhimento para pessoas adultas em situação de rua com vínculos familiares frágeis ou rompidos, em seus acolhidos de forma generalizada encontra -se muito mais do que
simplesmente o público alvo sugerido, são pessoas com um longo histórico de vida social desconstruida, com alto índice de dependência e falta de autonomia, muito embora em nossas atividades técnicas interdisciplinares, as equipes e nesse sentido cito profissionais embasados teórica e tecnicamente nessa área entre eles assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, profissionais de educação física, todos empenhados em cumprir com o estímulo de motivar, estimular e potencializar habilidades que infelizmente estão estagnadas a muito tempo.
A importância do saber que o acolhimento deve ser compreendido como uma casa e os técnicos são apoio interno para mediar situações específicas num contexto quantiqualitativo coletivo com diferentes
personalidades e situações subjetivas destes, não anula o fato de que a rede de saúde mental se faz tão importante quanto para o suprimento não somente médico-psiquiatrico, pensando nesta população específica que se mostra tão adoecida pelo tempo de permanência nas ruas, pelo tempo de permanencia no proprio acolhimento, pelas comorbidades, pelo tempo de uso de substâncias psicoativas e claro pelas condições sociais, culturais e socioeconomicas, mas sim, suprindo de forma complementar os espaços externos que se faz importante para que de fato possamos oferecer espaços de inclusão, mesmo que de forma tardia, pensando na qualidade de vida.
Para a Associação que tem um olhar integrado sobre as pessoas no sentido de
suas necessidades biopsicosocial e espiritual, contamos com o apoio da rede e lutamos para garantir que lhes sejam oferecidos todos os seus direitos e tambem estimulando esses indivíduos a não esperarem para receber, e sim por lutarem, por conquistarem, para irem a luta e conquistar.
Através da capelania, que não estimula a religião e sim utilizamos a fé, a espiritualidade como uma ferramenta técnica para lidar com as frustrações e as recaídas do sujeito, ela resgata e fortalece o indivíduo, pois em Deus eles não encontram julgamento, somente consolo.
Nosso papel não é sermos assistencialistas no sentido de somente oferecermos os atendimentos e sim desejamos ter capacidade de reconhecer as potencialidades e oferecer condições
do sujeito se reintegrar enquanto um novo ser, desejamos lutar pelo direito do indivíduo enquanto com algum transtorno/doença e trata-lo oferecendo as melhores ferramentas para que o mesmo tenha oportunidade de mesmo que em suas limitações possa aproveitar a vida com qualidade e dignidade e ainda, acolher algumas pessoas que fazem uso conveniente desses espaços e nesse recorte estimulá-los a aceitar minimamente que possamos acessá-los sem desrespeitar o seu direito de escolha.
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Ane Caroline Nabas, assistente social, especialista em saúde mental, coordenadora técnica da Associação Presbiteriana de Filantropia de Piracicaba (APFP)