Porque o PT não é de esquerda

Carlos Roberto de Góes

 

São tempos difíceis para a esquerda brasileira: de um lado, setores de direita, fundamentalistas e reacionários apontam falhas graves dos governos do PT e buscam instrumentalizá-las para justificar o impeachment da presidente Dilma Rousseff; de outro, centenas de cidadãos se mostram cada vez mais impacientes e desacreditados da política institucional por sentirem que a esquerda não “deu conta do recado”. Isso porque a capitulação do PT às políticas tradicionalmente adotadas pela direita traz uma grande confusão para boa parte da população, que ainda acredita que o PT é de esquerda e que, por isso, a crise política pela qual passou, e passa, o partido que ocupou por 13 anos o cargo executivo, representam uma crise da esquerda.

É preciso lembrar que o PT, apesar de ser um partido que se construiu tendo como base as bandeiras e pautas da esquerda, abriu mão de seu programa e aderiu à política da direita. E fez isso antes de ascender ao governo: a Carta aos Brasileiros (leia-se: Banqueiros) apresentada por Lula durante o pleito de 2002, foi uma demonstração clara disso. Já antes de se eleger, o Partido dos Trabalhadores fez a opção de se aliar aos ricos e poderosos.

Mesmo diante das ameaças de impedimento, Dilma continuou a buscar agradar aos “de cima”. A “Agenda Brasil” e a aprovação da “Lei antiterror” são provas disso: em busca do consenso e da manutenção de acordos com a classe dominante e seus representantes políticos, a presidente apoiou uma série de medidas que, na prática, retiraram direitos básicos garantidos à população. A primeira, por exemplo, acabou com a gratuidade universal do SUS e alterou os limites legais para demarcação de terras indígenas; e a segunda acabou com o direito de livre manifestação e cerceou a liberdade de expressão, ao enquadrar manifestantes como terroristas.

As graves consequências da capitulação do PT às políticas tradicionais da direita no Brasil causam confusão na cabeça de boa parte da população, que fica acreditando que a crise do PT é a crise da esquerda. Mas a crise do PT não é a crise da esquerda. A crise do PT é a crise daqueles que se construíram pela esquerda, mas que rasgaram seus compromissos, o seu programa e capitularam. Aderiram à política da direita. Fato.

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Carlos Roberto de Góes, empresário, proprietário da empresa SQG Terceirização, líder evangélico, do Distrito de Ártemis e Lago Azul

 

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