José Renato Nalini
Participei de uma reunião da Academia Paulista de Educação e, a convite de Hubert Alqueres, manifestei-me após a palestra de Maria Helena Guimarães Castro. Ela dissecou os Pareceres elaborados pelo CNE, com singular protagonismo dela, hoje candidata à Presidência do Conselho Nacional de Educação, para a educação brasileira pós-pandemia.
Concordei com as manifestações de outros luminares da educação brasileira que participaram do encontro: o próprio Hubert, hoje Presidente do Conselho Estadual de Educação, Guiomar Namo de Melo, Rose Neubauer e Nina Ranieri, entre outros. Na minha vez, falei que o Covid19 havia oportunizado um completo repensar da educação.
Baseado em constatação empírica de meu período na Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, convenci-me de que minha intuitiva sensação alicerçava-se na realidade. Os jovens não gostam da escola, como ela é hoje. Não aguentam mais as não raro insossas preleções com a reiteração de informações nem sempre atualizadas. Enquanto isso, dispõem do Google, que em segundos oferece respostas atualíssimas. As redes sociais propiciam contato com uma realidade colorida, sonora, dinâmica e atraente. As aulas convencionais podem competir com isso?
Minha opinião é a de que a educação deve ser assunto de todos e diversificada, como é a própria sociedade humana. Observar o pluralismo. Incentivar tudo o que der certo e não reprimir experiências ainda não tentadas. Por isso é que aplaudi o Ministro Luis Roberto Barroso quando votou a favor da educação em casa, no lar, promovida pelos pais ou por alguém por eles contratado para ensinar sua prole.
Não havia lido uma entrevista que Luciano Huck fez com Peter Diamandis, autor do livro “Abundância. O futuro é melhor do que você imagina” e geneticista formado pelo MIT. É também fundador da Singularity University e considerado pela revista Fortune um dos 50 maiores líderes do mundo. Fiquei mais confortado ao verificar que essa sumidade tem opinião análoga à minha. Melhor dizer: penso como ele. Como é estranha essa possibilidade de pessoas que não se conhecem partilharem convicções insólitas – são poucos os que defendem postura como essa – e tão semelhantes.
Mas foi o que aconteceu ao ler o texto (OESP, 02.08.20). Peter Diamands tem dois filhos de 9 anos em Los Angeles, onde as escolas estão fechadas. O que vem em seguida? Responde: “Porque, sinceramente, colocar eles em salas de aula com mais 30 alunos nos seus computadores ou nos seus tablets, e apenas um professor lidando com todos por meio de videoconferência, isso não funciona”.
E fala em “reinventar a educação”, que abordei na minha modesta fala. “A educação não mudou em centenas de anos, ainda é uma sala com uma pessoa falando para 30 alunos, se você tiver sorte, ou para 100, se você não tiver. Metade das crianças está perdida, metade está entediada. É um processo ridículo. Temos de reinventar a educação”.
Como fazer isso?
É o que milhares de mentes abertas estão pensando. Acredita-se que dentro de pouco tempo haverá opções educacionais que não se enquadram na “old fashion” de uma escola que permaneceu em séculos passados. “A melhor educação do mundo, aquela voltada para os filhos e filhas dos bilionários, vai ser uma educação individual, com um professor incrível, superinteligente, que conhece o nível educacional daquela criança, conhece as habilidades dela com a língua, sabe a cor favorita dela, sabe qual é o astro esportivo preferido, o ator e a atriz preferidos, e poderá dar a ela uma educação tão pessoal que a criança vai adorar, ela vai estar sempre envolvido em aprender”.
Esse professor particular pode ser a Inteligência Artificial.
O exemplo dos videogames é ilustrativo. Na educação formal, o aluno começa com 10 e vai perdendo pontos a cada erro. No videogame, começa-se do zero e os pontos vão aparecendo à medida dos acertos.
A China já tem aplicativos que focam a face do aluno e verificam se ele está aprendendo, interessado ou entediado. Acompanhamento personalizado. Viável para todos, desde que haja juízo por parte dos gestores das verbas estatais.
O único senão é que essa educação especialíssima já existe para filhos de muito ricos. Quando chegará para os excluídos? É exatamente para estes que a reinvenção da escola é um projeto muito importante e mais urgente do que a perda de tempo com Fundos Eleitoral e Partidário, fake news e outros assuntos que ocupam brasileiros e seu tempo nas bugigangas eletrônicas.
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José Renato Nalini, reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove, presidente da Academia Paulista de Letras (APL); foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo