Alexandre Gossn
Segundo o filósofo francês Jean-François Lyotard em sua magistral e sintética obra A Condição Pós-Moderna, publicada em 1979, umas das marcas do fim da modernidade e início da era pós-moderna que adentramos é a guerra das narrativas, a morte da ciência como bússola da verdade e a adoção de modelos científicos que buscam o apenas o desempenho em vez de respostas às questões cruciais ao cosmos.
Assim, sai o cientista como Newton, que buscava a equação para a beleza do universo, e entra o bilionário como Steve Jobs, que pretendia oferecer um smartphone com belo layout e superveloz.
Foram, portanto, com essas conclusões, muito bem delineadas e certamente decorrentes de uma mente afiada, que conseguiu antever com brevidade o que as décadas seguintes proporcionariam em termos de debates, que o filósofo francês abriu e fechou seu livro. Passados 41 anos, observamos que as premissas de Jean-François se concretizaram até a enésima potência.
Expressivo número de parlamentares republicanos e seus seguidores nos EUA erigiram meses atrás uma cruzada contra as máscaras durante a pandemia do coronavírus. No Brasil, também tivemos nossos destaques: nosso presidente não é um grande fã dela e um proeminente desembargador (juiz de segunda instância) vociferou vitupérios contra um guarda municipal na cidade de Santos (litoral de São Paulo), quando este instou-a utilizar a máscara em um passeio. A cena foi filmada, viralizou, gerou memes. Mas pasmem: há quem tenha ficado ao lado do desembargador, afinal, como fica a liberdade dele (contaminar outrem?)?
E agora foi a vez da Alemanha. A maior potência cultural, econômica e tecnológica do velho continente, governada por uma líder cientista e moderada como Angela Merkel, a nação tedesca não escapou às ações dos polemistas: no último final de semana, imensas passeatas bailaram pelos espaços públicos com grande pauta de protestos, entre elas, a obrigatoriedade de uso de máscaras em espaço público, o que, segundo os manifestantes, violaria a liberdade individual do cidadão.
Não parece relevante debater a eficiência ou ineficiência das máscaras segundo tecidos, tecnologias, modelos ou ocasiões. No meio de uma pandemia que contaminou mais de 25 milhões de pessoas e ceifou a vida de quase um milhão de pessoas – o dobro, por exemplo, de genocídios como de Ruanda e dez vezes mais que a guerra da Bósnia -, se negar a usar máscaras em espaços públicos não nos torna paladinos da liberdade, mas sim, aquele sujeito porco que utiliza o banheiro público e não puxa a descarga.
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Alexandre Gossn, advogado, mestre em Direito Ambiental, pós-graduado em Direito Imobiliário, pós-graduando em Ética e Filosofia e escritor
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