João Chaddad
Em diversas épocas em que participamos da administração municipal de Piracicaba e em especial como presidente do Ipplap, a nossa equipe trabalhou muito na orientação da população. Isso foi feito por meio de palestras, artigos, reportagens em jornais e revistas, além de rádios e televisão, para alertar e orientar a população para não invadir ou comprar áreas em loteamentos irregulares e clandestinos que, infelizmente, na sua maioria, resultam em aglomerados subnormais.
Conseguimos, em inúmeras campanhas, que centenas de famílias não fossem vítimas de loteadores incompetentes e ou desonestos. Esses loteamentos, em todo o Brasil, sem aprovação pelos poderes públicos somados as áreas verdes do município ou particulares invadidas, resultaram em um crescimento desordenado das cidades com o surgimento de grandes favelas.
No início eram poucas e pequenas que os prefeitos não deram atenção. Assim, e de acordo com levantamento preliminar do IBGE para 2021, o Brasil já tem 5,1 milhões de domicílios em aproximadamente 13 mil aglomerados subnormais, ou seja, as conhecidas favelas. E não estamos nos referindo a conjuntos habitacionais ou Minha casa, Minha Vida.
As favelas ou barracos existentes em todo território nacional recebem diferentes nomes de acordo com a região e topografia em que se localizam, como maloca, invasão, loteamento, grota, baixada, mocambo, palafita, ressaca, vila e muitos outros.
As favelas geralmente se formam através de invasões nas zonas rurais. E ainda em áreas com grande declividade, ou seja, encostas de morro, e também em margens de córregos contaminados, todas elas áreas proibidas e com grande perigo de vida para seus ocupantes.
Esses barracos, sem qualquer planejamento, não existem somente no Brasil, são encontrados em quase todo planeta com idênticas características. A maior do mundo se localiza na Índia com 19 milhões de habitantes seguida pela do México com 4 milhões de pessoas e uma das menores está nos Estados Unidos com apenas 52 mil pessoas.
As maiores e mais conhecidas favelas do Brasil estão localizadas no
Rio de Janeiro, com destaque especial para a famosa Rocinha com 25 mil domicílios e aproximadamente com 70 mil pessoas e também na cidade de São Paulo, a conhecida Comunidade de Paraisópolis com 45 mil habitantes.
Os Estados da Bahia, Pernambuco e Espírito Santo, também se destacam pelo grande número de favelas.
O favelado, por falta de opção e de recursos, se torna um forte, um ser resistente a tudo e, assim sendo, acaba se acostumando junto à sua numerosa família a suportar as intempéries e a fome, naturalmente com grande sofrimento e deficiência nutricional.
Moram em construções, com estruturas frágeis, com áreas que variam de 30 a 50 metros quadrados, muitas vezes às margens inundáveis de córregos infectados por esgotos clandestinos e as paredes de fechamento, que são feitas com retalhos de papelão ou de madeira e a cobertura com pedaços metálicos de restos de tapumes.
No final do Século XX, migrantes, principalmente do nordeste, vieram para o Oeste e Sudeste do Brasil, principalmente para Brasília e Estado de São Paulo, fixando-se na periferia das grandes cidades, em locais que ainda não havia rede de água nem de esgoto e outros melhoramentos, isto é, nenhum saneamento básico e infraestrutura, assim permanecendo por muito tempo.
Até que alguns prefeitos de visão, analisando os mapas do município e verificando a localização das favelas – hoje chamadas corretamente de Comunidades —. concluem que, em antigas e conhecidas favelas, havia pouquíssima infraestrutura urbana, equipamentos sociais e de lazer.
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Aqui em Piracicaba, nas gestões passadas em que nós participamos, foram feitas dezenas de urbanizações completas beneficiando milhares de famílias. Quando tive a alegria de participar da Secretaria de Obras e, posteriormente do Ipplap, estive nas quase 60 favelas da cidade e convivi muito tempo com os moradores de famílias humildes e pobres. E, no dia a dia daquela gente, eu tive a oportunidade de ver e ouvir coisas e histórias realmente tristes e comoventes, antes e depois dos sucessivos melhoramentos executados pelo nosso prefeito Barjas Negri.
Para começar, o sofrimento para circular a pé, de bicicleta e de ônibus: vi o desespero das famílias durante e logo após as tempestades; a dificuldade das mães de educar e alimentar o grande número de filhos, a fantástica solidariedade entre vizinhos com as tarefas e alimentação.
E vi, também, as dificuldades para ler e escrever e os problemas com saúde, apesar da bendita existência do SUS (Sistema Único de Saúde) que conhece, historicamente, que as suas fragilidades são as mais atingidas pelas mais variadas doenças e epidemias. E, assim sendo, diante disso tudo, e por questão de solidariedade todos nós, pessoas físicas e jurídicas, devemos colaborar com as autoridades com ideias, prestação de serviços e financeiramente com esses nossos irmãos.
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João Chaddad, arquiteto e urbanista, foi vice-prefeito de Piracicaba em dois mandatos (Humberto de Campos e Gabriel Ferrato)