Educação, de volta às origens?

Vivian Previde 

 

Quando ainda residia em Piracicaba, no imenso casarão hoje transformado em museu em sua homenagem, o então Vereador Prudente de Moraes buscou uma solução inusitada para educar seus filhos. Procurou na cidade uma pessoa capacitada para ensiná-las em sua residência. A escolha recaiu sobre Miss Marta Whatts, recém chegada dos Estados Unidos, missionária metodista, altamente capacitada para essa tarefa. Depois de algum tempo de aulas em sua casa, elas foram transferidas para a residência da educadora, que passou a atender também outras crianças, com o objetivo de ensinar-lhes, além da língua pátria, o inglês e a educação para a vida. Essa semente redundou na criação posterior do Colégio Piracicabano e da Universidade Metodista de Piracicaba.

Lembrei-me deste preâmbulo, por conta da situação de pandemia que vivemos e que, em especial no campo da educação, tem sido a saída possível para alguns pais que retomam lentamente suas atividades formais e que conseguiram encontrar na figura do “´professor particular”, espaço para o ensino de seus filhos, desde a suspensão das aulas em março deste ano.

O A Federação das Escolas e creches particulares apontou, em comunicação recente, que 90% dos contratos de aulas para crianças de zero a três anos já foram suspensos no país. E que a figura do professor contratado pelas famílias, passou a ser a solução mais adequada, inclusive para contrapor-se às aulas de 40 minutos, ministradas pela rede pública e particular de ensino em todos os níveis.

A nova polêmica que se impõe agora é sobre a reabertura das nossas escolas, primeiro para setembro, agora já para outubro. Temos visto matérias nos nossos telejornais, lido nas revistas especializadas e jornais de grande circulação, que por exemplo, a Espanha, por conta de preocupações com novo surto, após liberação das aulas para jovens estudantes, está querendo retomar novo período de quarentena.

Aqui no Brasil, há movimento forte dos professores não querendo voltar às aulas, enquanto o governo insiste na tese em sua reabertura. Mais um tipo de decisão inusitada.

Não é preciso ser cientista, professor, cigana que lê bola de cristal ou mágico, para “adivinhar” qual seria o resultado imediato, em 15 dias de outubro, se as aulas presenciais forem liberadas. Mesmo com 30% dos alunos presentes. Quem não vai querer um abraço? Um beijo no rosto?  Um afeto, depois de cinco meses trancado em casa? Quem não vai dar um cascudo no amigo que engordou? Ou por conta do novo look da amiga que pintou os cabelos de rosa? A necessária convivência social, além de encontros, trará as brincadeiras, os afagos, os encontros mais próximos.

E com esse retorno antecipado, não tenho dúvidas de que os contatos beneficiarão o crescimento da pandemia entre nós. Especialmente entre os jovens, absolutamente poupados – embora tenhamos casos entre nós – dos óbitos que já chegam a mais de duas centenas em nossa cidade.

Sem computadores, sem redes de acesso, sem professores em sala de aula, a educação municipal pública é, certamente, um dos setores mais prejudicados em nossa cidade durante a pandemia, afastando das salas cerca de 80 mil alunos, entre os frequentadores das creches, ensino médio e fundamental. Além das Universidades.

Alinho-me aos cidadãos que entendem ser importante a volta às aulas, mas só em 2021. Que até lá, os pais continuem provendo e estimulando seus filhos como podem, até contratando professores particulares. Mas que os acompanhem, dia e noite, sugerindo leituras, tarefas e o necessário distanciamento apenas dos filmes de televisão, que encantam e emburrecem, na mesma proporção.

Que os professores particulares ou quando não eles, os pais professores, voltem ao final do século XIX e ajam como agiu nosso Vereador e depois Presidente Prudente de Moraes, e busquem em outras pessoas próximas o apoio necessário para a educação dos seus filhos nestes dias.

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Vivian Previde, advogada

 

 

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