Covid-19: campanha alerta para vulnerabilidade de profissionais da “linha de frente”

Além de ser o segundo país no mundo em número de contaminados e de óbitos por Covid-19, ultrapassando 100 mil mortes, o Brasil também é um país com elevados casos de profissionais de serviços essenciais afetados pelo novo coronavírus. Com o objetivo de combater a estigmatização e fomentar o respeito e o apoio àqueles que estão na linha de frente no combate à pandemia, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) lança a campanha “Valorize o Essencial”.
“Reconhecer e valorizar o trabalho das mulheres e homens que estão trabalhando na resposta à pandemia é crucial para que as comunidades superem esta crise sanitária”, afirma a chefe da Delegação do CICV para o Brasil e os países do Cone Sul, Simone Casabianca-Aeschlimann. “Esses profissionais não apenas salvam as pessoas; também garantem a continuidade dos serviços que são essenciais a todos nós, como saúde, assistência social e educação. Eles merecem todo nosso apoio e solidariedade.”
Em seu dia a dia de trabalho desde o início da pandemia, os profissionais estão expostos a alto risco de contaminação. Dados do Ministério da Saúde, publicados no boletim de 6 de agosto sobre a Covid-19, mostram que 232.992 profissionais de saúde foram diagnosticados com coronavirus. Desses, 196 morreram oficialmente por Covid-19 e outros casos estão sendo investigados. Mas o número pode ser ainda maior. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), o total de casos confirmados entre profissionais da categoria é de 32.279 e o número de óbitos chega a 334 apenas entre profissionais de enfermagem.
“As pessoas só descobrem os profissionais de saúde por conta da pandemia. Eles não são valorizados, mas continuam trabalhando. Para além da pandemia, esses profissionais continuam sendo aqueles que estão na frente salvando vidas, e não estão sendo valorizados.” O desabafo é da médica Roma Napoli, de Duque de Caxias (RJ). Com 33 anos de profissão, ela atendia pacientes de Covid-19 quando foi contaminada com o novo coronavírus e teve de ser internada por sete dias. “Todos nós somos muito vulneráveis. Nunca convivemos com uma doença tão severa, tão fatal, emocional e fisicamente.”
De fato, no que diz respeito aos médicos, por exemplo, pesquisa Datafolha divulgada em julho mostra que eles se tornaram os profissionais de maior credibilidade no Brasil em 2020, com 35% de confiança da população. A mesma pesquisa mostra que, embora 51% dos brasileiros acreditem que o trabalho do médico tem recebido a valorização merecida, a população avalia as condições de trabalho oferecidas aos médicos como regulares, ruins ou péssimas.
Embora muitas comunidades tenham demostrando o agradecimento aos profissionais da saúde, em outras há relatos preocupantes de assédio e violência contra aqueles envolvidos na desafiadora resposta à Covid-19. O médico Carlos Moreira afima que, se por um lado se sente respeitado por trabalhar em um hospital de campanha, há também preconceito. “Algumas pessoas, inclusive familiares, sabem que minha esposa e eu somos médicos e têm se afastado”, lamenta. Em tempos de pandemia ou não, ataques a profissionais de saúde, assistência social e educação são muito mais nocivos do que parecem. Afetam a comunidade como um todo, ao deixar a população menos assistida.
“Com a pandemia, todos aprendemos a reconhecer quem e o que é essencial: a saúde de todos nós, os serviços essenciais, os profissionais que estão dia e noite trabalhando para ajudar quem precisa vencer essa batalha. O essencial sempre fez parte da nossa história e faz parte do nosso dia a dia”, sintetiza a responsável técnica do programa Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais do CICV, Lívia Schunk.

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