O equívoco do retorno às aulas presenciais

Adelino Francisco de Oliveira

 

A pandemia do Convid-19 colocou a sociedade em uma situação dramática, que tem exigido respostas sociais inovadoras e comprometidas com o senso de justiça e equidade, inclusive no campo da educação. No Brasil, a pandemia de Covid-19, que já ceifou a vida de mais de cem mil pessoas, tem exposto as entranhas podres do neoliberalismo, que alavanca um projeto econômico e social que agrava ainda mais as brutais desigualdades.

A insensibilidade e insensatez das políticas governamentais são estarrecedoras. Os brasileiros, mesmo diante do vírus letal, encontram-se abandonados a própria sorte. Os interesses mais imediatos, defendidos por seguimentos econômicos e financeiros, acabaram por se impor, em detrimento do cuidado para com a saúde da população. Enquanto não se chegar a uma vacina, que previna e evite o contágio do novo coronavírus, não será possível o retorno a uma rotina de normalidade.

A pandemia tem nos mostrado, de maneira dura e com muito sofrimento, que a saúde é um bem precioso e fundamental. Sem a saúde, nada mais tem importância. É preciso que a sociedade se una, sem poupar esforços e recursos, em torno de um grande pacto pela vida. Todos devem se envolver e participar, mas a responsabilidade de mobilizar, liderar e apresentar saídas cabe, sobretudo, ao poder público.

A proposta de reabertura das escolas, tanto públicas quanto privadas, retomando a dinâmica cotidiana de aulas presenciais, significa fechar os olhos e ignorar a gravidade da situação que ainda vivemos. Retomar as aulas presenciais é uma decisão, no mínimo, insana e irresponsável. Com a saúde e com a vida das pessoas não cabem testes e experiências que podem levar a resultados incontroláveis e irreparáveis.

Com aulas presenciais, haverá uma aceleração no ciclo de contágio do novo coronavirus, provocando, por consequência, o aumento no número de mortes. O ambiente escolar não pode se tornar um foco de transmissão da doença. É urgente agora defender a saúde das crianças, dos jovens estudantes, das famílias, dos profissionais que atuam na educação e toda comunidade. Por isso, é preciso que a sociedade em seu conjunto se levante, erga a sua voz, dizendo um contundente não ao retorno às aulas presenciais.

Defender o não retorno às aulas não representa desconsiderar os impactos da pandemia para o setor educacional, bem como para o cotidiano da vida das famílias, com as crianças em casa. É preciso aqui que o governo implemente políticas públicas com auxílios na forma de isenções e linhas de créditos para o setor educacional, preservando a sustentabilidade financeira das escolas privadas. É preciso ainda que o governo, também por meio de políticas públicas, crie condições para que as crianças, os jovens estudantes e todos os profissionais da educação possam desenvolver atividades pedagógicas e educacionais por meio de um sistema remoto de comunicação, promovendo interações sem a presença física nos espaços escolares.

Em uma visão responsável e de conjunto, as aulas presenciais não devem ser retomadas este ano. No entanto, é necessária uma atenção mais específica, com respostas adequadas, para os estudantes que se encontram na fase de conclusão de seus ciclos e para os cursos da modalidade EJA. O passo mais importante é aprimorar, por meio de políticas públicas, os mecanismos de comunicação remota, atuando para que a educação não se torne um espaço de agravamento das desigualdades sociais.

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Adelino Francisco de Oliveira, professor no Instituto Federal, campus Piracicaba; Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião; e-mail: [email protected]

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